quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Guerra: uma ironia paulina

Na perícope de Efésios 6,14-17 encontram-se as seguintes assertivas:

“Estais, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade, e vestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz, embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus”.

Eu gosto desta ironia e crítica paulina repleta de profundo ensinamento sobre o modo como é possível caminhar pacificamente sob a doce coordenação de Jesus Cristo. Em outros termos, o/a discípulo/a não faz parte de um exército, nem se orienta pela lógica guerreira, tampouco sente prazer com os rumores de guerra. Me desculpem, mas até hoje eu não consigo ver Jesus convocando, formando e preparando um exército de discípulos/as.

Na época de Paulo o deus romano (Imperador) conquistava o coração dos/as “fiéis” (súditos/as) com a pax. Esta por sua vez se dava mediante a força das armas, da opressão, da crueldade, da guerra, do sadismo, do castigo, do assassinato e da imposição. O culto que esse deus exigia dos/as “crentes” era um ordenamento inquestionável e obrigatório. De vez que os/as cidadãos/ãs obedecem a ordem do seu “senhor” eles/as “herdam” o Império Romano. Portanto, seguir a esse "Estado" autoritário era um peso terrível para homens e mulheres.

Jesus vem trazer salvação e libertação de todo jugo proporcionado pelo pecado, pelo diabo e pela lógica romana. Cristo não guerreia, não exige massacres, não impõe, antes promove a salvação, a felicidade, a vida plena e a morada no Reino do Céu. Se de um lado há o exército imperial, do outro está a multidão de amigos/as de Deus resgatados/as pelo Cordeiro que vivem a lógica do Evangelho.

O/A crente não é soldado/a, não fura o “bucho” das pessoas com a "peixeira", não estraga o moletom de jovens com tiros de “AK47” ou “fuzil AR15”, não degola os/as infiéis em nome do Senhor, não lança mísseis e bombas nucleares em direção aos/às inimigos/as, não "metralha" humanos-demônios ou demônios-humanos com uma “Browning .50 Espiritual”, não se organiza numa “SWAT celestial” portando um “trezoitão divino” pronto para “fritar” as hostes malignas representadas nesta terra por homens/mulheres compromissados/as consigo mesmos/as.

Atentar-se para as Boas Novas anunciadas por Jesus Cristo é de grande valia. Numa perspectiva paulina é possível declarar: chega de cinturões, couraças, sandálias cheias de cravos, escudos, capacetes e espadas! Basta ao/à fiel a verdade, a justiça, o evangelho da paz, a fé, a salvação e a Palavra de Deus.

Cada crente já trava “grandes batalhas” em seu coração por conta de sua tendência ao individualismo, à arrogância, à competição, à mentira, à prepotência e a toda sorte de pecados. Por outro lado, existem seres espirituais malignos que buscam atrapalhar significativamente a vida das pessoas. Uma vez que estas asserções são verdades, somente com o exercício do amor que a vitória pode ser alcançada. Armas enganam, ferem e matam. Amor restaura, salva e liberta. Não há pecados ou entidades demoníacas que resistam ao amor de Cristo que opera na vida dos/as discípulos/as.

Que o Pai Celeste nos liberte dos bélicos desejos de “matar, roubar e destruir” os/as “opositores/as” do Evangelho. Que o Cristo Vivo nos ajude a ser “sal da terra e luz do mundo”... ao invés de traçar estratégias para “saquear infernos”. Que o Espírito Santo nos instigue a rever as nossas músicas militares, as nossas orações agressivas e o nosso testemunho violento e impiedoso.

Até segunda “ordem”... o/a discípulo/a é ministro/a do Amor e da Reconciliação.

Graça, paz e bem!

5 comentários:

Alysson Amorim disse...

"O Senhor dos Exércitos é o nosso General de guerra"

"Pelo Senhor marchamos sim..."

Etc, Etc.

Tudo com a ajudinha do Paulo.

Também voto SIM pelo desarmamento da cristandade, pelo fim das Cruzadas.

Abração.

Maya Felix disse...

Gostei do texto, Edemir, apesar de achar que a discussão pode ser aprofundada em termos do que é conotação/denotação nos trechos em que Paulo fala das armas! Assim como também não somos atletas, mas ele compara nossa disciplina espiritual à de um atleta!

Postei esse texto no meu blog; um abraço,

Maya Felix disse...

Ah, Edemir, obrigada por ter colocado meu nome nos seus links, gostei. Mas o meu "Felix" é sem acento, nem eu sei o porquê.

Ivo Fernandes disse...

Querido Edemir

Primeiro obrigado pelas palavras deixadas no blog.
Li seus textos de muita profundidade e clareza.

Paz e Bem sobe ti

Ivo

Dos dois lados do Equador disse...

Edemir,
Obrigado por sempre visitar o "Do dois lados".

Sobre o texto, de fato, precisamos aboliar a guerra de nossa alma viciada em competir e ganhar. Deixemos isso para os campos de futebol. Na vida os discípulos sabem que sol e chuva, tsunamis e primaveras vem para todos.

Paz,

Vando