quinta-feira, 24 de maio de 2018

Povo de Deus! Povo equilibrado!



O fim de todas as coisas está próximo. Portanto, sejam criteriosos e sóbrios; dediquem-se à oração.” [I Pedro 4.7]


Desajustes no organismo e problemas emocionais interferem de algum modo em nossas opções, posturas e ações. Há outros tipos de interferências que também se refletem em nosso ser, por exemplo, conflitos interpessoais, pressão no trabalho, dificuldades nos estudos, crises sociais e políticas, e descontrole financeiro. A tudo isso podemos acrescentar a imaturidade, inexperiência,  limitação física, desconexão com Deus e o pecado. Diante deste quadro alguém pode se perguntar: Como ser uma pessoa equilibrada?

Certamente este questionamento deve ter sido feito no 1º século pelas cristãs e cristãos que residiam nas regiões do Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia. Tais pessoas, deixaram para trás sua terra natal e estavam morando em lugares diferentes. Além do fato de estarem lidando com novas culturas, aquelas irmãs e irmãos estavam reconstruindo a vida com suas famílias, buscavam subsistir, procuravam ser fiéis a Deus, reuniam-se em Igreja, e sofriam perseguições religiosas e políticas.

O apóstolo Pedro estava ciente da dura realidade vivida por aquelas pessoas e por isso escreveu-lhes uma carta a fim de dar orientações pastorais sobre diversos assuntos. Pelos temas tratados, percebe-se que muita gente não estava certa de como viver o seguimento de Jesus Cristo diante de tantas novidades e dos sentimentos de incerteza, medo, desesperança e abatimento que estavam experimentando. Assim, Pedro, sensível à voz de Deus e as necessidades daquelas irmãs e irmãos, passa a orientar o povo.

No capítulo quarto, quase no fim da carta, o apóstolo declara: O fim de todas as coisas está próximo. Portanto, sejam criteriosos e sóbrios; dediquem-se à oração.” Em outras palavras, Pedro está convocando as cristãs e cristãos a manterem comunhão com Deus, especialmente dialogando com o Senhor através da oração. Com este exercício espiritual, as irmãs e irmãos manteriam o foco correto, não abririam mão do Evangelho e teriam condições de melhor lidarem com os desequilíbrios da vida.

Agir com critério e sobriedade pode ser compreendido como proceder com equilíbrio. Diante dos desequilíbrios internos e externos que o povo estava vivendo e poderia viver, era importantíssimo que o Evangelho fosse buscado. O Evangelho seria a segurança em meio a corda bamba da existência. Tomando  Jesus Cristo como a principal e melhor referência da vida, as irmãs e irmãos, diante da tentação de caírem nos extremismos, viveriam uma espiritualidade equilibrada que lhes permitiria uma relação saudável com Deus, as pessoas próximas e tudo o mais que abarca a Criação.

Muitos anos depois deste episódio bíblico, a temática da espiritualidade equilibrada, temperante, foi retomada por John Wesley. De maneira resumida, este equilíbrio diz respeito aos elementos que compõe a vida cristã que devem caminhar inseparáveis. Um temperando o outro. E dessa forma distorções são evitadas. Por exemplo, santidade pessoal e responsabilidade social. Uma não caminha sem a outra. Quando uma dessas é deixada de lado o desequilíbrio se instaura.

A ênfase exclusiva na santidade pessoal torna a pessoa insensível a quem está a sua volta. Sua vida fica circunscrita às práticas da oração, jejum, cultos, vigílias, retiros e demais experiências espirituais individuais. Com isso idolatram-se as ações devocionais ao invés de priorizar a consagração ao Deus da Vida. De outro lado, quem se apega unicamente à responsabilidade social reduz a vida cristã a ações de benevolência para com a sociedade e o planeta. Empenha-se em pensar o bem coletivo e com isso acaba por supervalorizar os esforços humanos, a racionalidade, a matéria, o concreto e Deus se torna um acessório quase descartável.

Como cristãs e cristãos do século 21, povo do coração aquecido, nós acolhemos a exortação bíblica de que é urgente estreitarmos os nossos laços com Deus para que desenvolvamos uma fé viva e equilibrada. Assim, faremos tudo aquilo que nos cabe como discípulas e discípulos de Cristo. Procederemos de maneira temperada. Que o Espírito Santo nos auxilie a revermos os exageros da nossa espiritualidade a fim de que Cristo dê o tom em nossas ações e reflexões e o nosso Pai seja glorificado.

Graça, paz e bem!