“O fim de todas as coisas está próximo.
Portanto, sejam criteriosos e sóbrios; dediquem-se à oração.” [I Pedro 4.7]
Desajustes
no organismo e problemas emocionais interferem de algum modo em nossas opções, posturas
e ações. Há outros tipos de interferências que também se refletem em nosso ser,
por exemplo, conflitos interpessoais, pressão no trabalho, dificuldades nos estudos,
crises sociais e políticas, e descontrole financeiro. A tudo isso podemos
acrescentar a imaturidade, inexperiência,
limitação física, desconexão com Deus e o pecado. Diante deste quadro
alguém pode se perguntar: Como ser uma pessoa equilibrada?
Certamente
este questionamento deve ter sido feito no 1º século pelas cristãs e cristãos
que residiam nas regiões do Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia. Tais
pessoas, deixaram para trás sua terra natal e estavam morando em lugares
diferentes. Além do fato de estarem lidando com novas culturas, aquelas irmãs e
irmãos estavam reconstruindo a vida com suas famílias, buscavam subsistir, procuravam
ser fiéis a Deus, reuniam-se em Igreja, e sofriam perseguições religiosas e
políticas.
O
apóstolo Pedro estava ciente da dura realidade vivida por aquelas pessoas e por
isso escreveu-lhes uma carta a fim de dar orientações pastorais sobre diversos
assuntos. Pelos temas tratados, percebe-se que muita gente não estava certa de
como viver o seguimento de Jesus Cristo diante de tantas novidades e dos
sentimentos de incerteza, medo, desesperança e abatimento que estavam
experimentando. Assim, Pedro, sensível à voz de Deus e as necessidades daquelas
irmãs e irmãos, passa a orientar o povo.
No
capítulo quarto, quase no fim da carta, o apóstolo declara: “O fim
de todas as coisas está próximo. Portanto, sejam criteriosos e sóbrios;
dediquem-se à oração.” Em outras palavras, Pedro está convocando as cristãs e
cristãos a manterem comunhão com Deus, especialmente dialogando com o Senhor
através da oração. Com este exercício espiritual, as irmãs e irmãos manteriam o
foco correto, não abririam mão do Evangelho e teriam condições de melhor
lidarem com os desequilíbrios da vida.
Agir
com critério e sobriedade pode ser compreendido como proceder com equilíbrio.
Diante dos desequilíbrios internos e externos que o povo estava vivendo e poderia
viver, era importantíssimo que o Evangelho fosse buscado. O Evangelho seria a
segurança em meio a corda bamba da existência. Tomando Jesus Cristo como a principal e melhor
referência da vida, as irmãs e irmãos, diante da tentação de caírem nos
extremismos, viveriam uma espiritualidade equilibrada que lhes permitiria uma
relação saudável com Deus, as pessoas próximas e tudo o mais que abarca a
Criação.
Muitos
anos depois deste episódio bíblico, a temática da espiritualidade equilibrada,
temperante, foi retomada por John Wesley. De maneira resumida, este equilíbrio diz
respeito aos elementos que compõe a vida cristã que devem caminhar inseparáveis.
Um temperando o outro. E dessa forma distorções são evitadas. Por exemplo,
santidade pessoal e responsabilidade social. Uma não caminha sem a outra.
Quando uma dessas é deixada de lado o desequilíbrio se instaura.
A
ênfase exclusiva na santidade pessoal torna a pessoa insensível a quem está a
sua volta. Sua vida fica circunscrita às práticas da oração, jejum, cultos,
vigílias, retiros e demais experiências espirituais individuais. Com isso idolatram-se
as ações devocionais ao invés de priorizar a consagração ao Deus da Vida. De
outro lado, quem se apega unicamente à responsabilidade social reduz a vida
cristã a ações de benevolência para com a sociedade e o planeta. Empenha-se em pensar
o bem coletivo e com isso acaba por supervalorizar os esforços humanos, a
racionalidade, a matéria, o concreto e Deus se torna um acessório quase
descartável.
Como
cristãs e cristãos do século 21, povo do coração aquecido, nós acolhemos a
exortação bíblica de que é urgente estreitarmos os nossos laços com Deus para
que desenvolvamos uma fé viva e equilibrada. Assim, faremos tudo aquilo que nos
cabe como discípulas e discípulos de Cristo. Procederemos de maneira temperada.
Que o Espírito Santo nos auxilie a revermos os exageros da nossa
espiritualidade a fim de que Cristo dê o tom em nossas ações e reflexões e o
nosso Pai seja glorificado.
Graça,
paz e bem!
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