Ao pensarmos numa pessoa qualquer nós somos tomados/as pela idéia mais ou menos óbvia de que “nós não somos ela”. Não obstante, temos que concordar que muito do que há nela também existe em nós.
Para facilitar a compreensão nós podemos tentar nos descrever. Sem cair na tentação de discorrer primeiramente sobre a nossa bela aparência exterior, comecemos a falar sobre o nosso interior. Nós temos uma história, valores, projetos, desejos, qualidades, defeitos, aptidões, medos e pontos de vista. Tudo isso que existe dentro do nosso coração se apresenta de alguma maneira no “cartão de visita” que nós chamamos de corpo exterior.
Para ilustrar comparemo-nos a uma casa. Só dá para saber o que há dentro dela se nós adentramos aos aposentos que a compõem. Cada ambiente tem a sua particularidade e revela-nos um pouco dos seus residentes. As cores, as imagens, os quadros, os móveis, os cheiros, os sabores, os sons, os arranjos e os objetos, embora não sejam as pessoas, são a extensão daquilo que experimentam em seus corações. Cada casa nos indica um mundo. Cada pessoa é um mundo.
Um outro mundo que não seja aquele que conhecemos bem nos causa receio, estranheza, medo e, em alguns casos raros, trazemos conosco o anseio por viver uma aventura desbravando os mistérios de uma outra realidade. Porém, antes de nos aventurarmos precisamos inicialmente ter uma noção a respeito da nossa casa, do nosso coração, da nossa vida. Quando temos esta consciência fica muito mais fácil administrar a nossa existência, pois nós passamos a entender muita coisa a respeito de nós mesmos.
É aqui que entra o ensinamento de Jesus em Marcos 12,28-31: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Muitos religiosos da época estavam desconfiados e irritados com os ensinos e práticas de Cristo. Por isso, certa feita um escriba se dirige ao Senhor e lhe pergunta sobre o principal dos mandamentos. A intenção deste homem era deixar Jesus numa situação constrangedora diante do povo. Contudo, o Mestre reapresenta a verdade das Escrituras tanto ao seu inquiridor quanto àqueles/as que estavam vendo e vivendo aquela situação.
Esta postura de Jesus coloca em “xeque” aquilo que as pessoas viviam na época. Porque não adianta saber frases bíblicas decoradas. As palavras que estão contidas nas Escrituras devem ser vividas. O mundo e toda a existência humana não vão mudar porque diante de uma chamada oral para averiguar se sabemos palavras memorizadas nós tivemos o máximo de aproveitamento.
O silêncio que os/as ouvintes fizeram depois das palavras pronunciadas por Jesus revelam que o Senhor reordenou o lugar das palavras a fim de que elas se tornassem em milagres que mudam o mundo. Uma vez que elas encontram solo fértil no coração dos/as homens/mulheres aí sim cumprem o seu papel salvífico e libertador. Desta maneira, a nossa casa, que é o nosso coração, ganha luz, beleza e conteúdo. Gradativamente as trevas vão saindo da nossa vida e a santidade de Deus passa a ocupar lugar central em nós.
Até parece que Jesus estava refletindo sobre a conhecida frase do poeta Mario Quintana: “Amar é mudar a alma de casa”. Quando nós estamos cientes de quem somos, isto é, conhecemos um pouco melhor a nossa casa e todos os objetos que a compõem então nós estamos prontos para ir de encontro às outras pessoas.
Mas, quem cuida apenas do seu coração acaba desconsiderando que o/a outro/a também é importante. Quem cuida apenas do seu coração não consegue amar porque olha para os/as semelhantes de uma maneira egoísta, ou seja, pensa-se somente naquilo que o/a próximo/a pode lhe apresentar como benefício.
Quando Quintana afirma “amar é mudar a alma de casa”, uma idéia presente é que só consegue amar quem conhece a si mesmo/a e se lança em direção ao/à outro/a. Permite-se entrar na casa do/a semelhante para compartilhar, aprender e ensinar. Permite, também, que o/a outro/a entre em sua casa para compartilhar, aprender e ensinar. Tomando essa idéia e somando-a ao ensino de Jesus, entendemos que amar não significa anular-se em prol do/a outro/a, tampouco amar significa passar por cima do/a outro/a a fim de que ele/a nos venere e obedeça cegamente aquilo que ordenamos.
Quem ama de fato não deseja possuir a outra pessoa, mas sim caminhar ao lado dela. No momento que se caminha ao lado o ciúme não consegue florescer. O ciúme é um sentimento movido pela insegurança de si e medo de que o/a outro/a não nos olhe e nos troque. O ciúme indica que a pessoa não conhece e nem valoriza a sua casa e não está disposto/a a conhecer e valorizar a casa do/a outro/a. A pessoa é tão insegura que ela quer compensar sua insegurança escravizando o/a outro/a, tendo o/a outro/a em sua posse. Quem deseja se apoderar do/a semelhante não consegue amar. É necessário conhecer um pouco de si para depois se dispor a andar com o/a próximo/a.
Deus é este ser que se conhece plenamente, conhece plenamente os/as homens/mulheres e por isso se oferece em amor. Ele sai de si para oferecer a salvação, o amor, a paz, o consolo, a libertação, o ânimo e a restauração. Por isso que o “mandamento” completo afirma: “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. E amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
Quando nós nos amamos, nós estamos cientes que na nossa casa estão presentes histórias, valores, projetos, desejos, qualidades, defeitos, aptidões, medos e pontos de vista. O mesmo se dá na vida daquele/a a quem nos propomos amar. Nós nos valorizamos mutuamente, nós aprendemos juntos, nós nos ajudamos em nossas fraquezas e limitações, e nós nos voltamos Àquele que nos amou de tal maneira que deu seu filho unigênito para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Este é o convite que Deus nos faz: amar o/a próximo/a como a ti mesmo/a. À medida que formos experimentando este amor, o Espírito vai agindo mais intensamente em nosso coração de uma tal maneira que as relações na família, na igreja, nos círculos de amizade, no trabalho, na escola adquirem uma maior qualidade. Além disso, as relações que temos com a natureza, com as cidades e com o campo também mudam porque começamos a viver a lógica do amor presente no Evangelho.
A vontade de Deus para a nossa vida é que sejamos gratuitamente transformados/as pelo amor. Ouçamos o que Espírito Santo nos diz porque Ele tem grandes planos para nós. Que o Senhor continue a nos abençoar em nome de Jesus Cristo. Amém.
Graça, paz e bem!
Para facilitar a compreensão nós podemos tentar nos descrever. Sem cair na tentação de discorrer primeiramente sobre a nossa bela aparência exterior, comecemos a falar sobre o nosso interior. Nós temos uma história, valores, projetos, desejos, qualidades, defeitos, aptidões, medos e pontos de vista. Tudo isso que existe dentro do nosso coração se apresenta de alguma maneira no “cartão de visita” que nós chamamos de corpo exterior.
Para ilustrar comparemo-nos a uma casa. Só dá para saber o que há dentro dela se nós adentramos aos aposentos que a compõem. Cada ambiente tem a sua particularidade e revela-nos um pouco dos seus residentes. As cores, as imagens, os quadros, os móveis, os cheiros, os sabores, os sons, os arranjos e os objetos, embora não sejam as pessoas, são a extensão daquilo que experimentam em seus corações. Cada casa nos indica um mundo. Cada pessoa é um mundo.
Um outro mundo que não seja aquele que conhecemos bem nos causa receio, estranheza, medo e, em alguns casos raros, trazemos conosco o anseio por viver uma aventura desbravando os mistérios de uma outra realidade. Porém, antes de nos aventurarmos precisamos inicialmente ter uma noção a respeito da nossa casa, do nosso coração, da nossa vida. Quando temos esta consciência fica muito mais fácil administrar a nossa existência, pois nós passamos a entender muita coisa a respeito de nós mesmos.
É aqui que entra o ensinamento de Jesus em Marcos 12,28-31: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Muitos religiosos da época estavam desconfiados e irritados com os ensinos e práticas de Cristo. Por isso, certa feita um escriba se dirige ao Senhor e lhe pergunta sobre o principal dos mandamentos. A intenção deste homem era deixar Jesus numa situação constrangedora diante do povo. Contudo, o Mestre reapresenta a verdade das Escrituras tanto ao seu inquiridor quanto àqueles/as que estavam vendo e vivendo aquela situação.
Esta postura de Jesus coloca em “xeque” aquilo que as pessoas viviam na época. Porque não adianta saber frases bíblicas decoradas. As palavras que estão contidas nas Escrituras devem ser vividas. O mundo e toda a existência humana não vão mudar porque diante de uma chamada oral para averiguar se sabemos palavras memorizadas nós tivemos o máximo de aproveitamento.
O silêncio que os/as ouvintes fizeram depois das palavras pronunciadas por Jesus revelam que o Senhor reordenou o lugar das palavras a fim de que elas se tornassem em milagres que mudam o mundo. Uma vez que elas encontram solo fértil no coração dos/as homens/mulheres aí sim cumprem o seu papel salvífico e libertador. Desta maneira, a nossa casa, que é o nosso coração, ganha luz, beleza e conteúdo. Gradativamente as trevas vão saindo da nossa vida e a santidade de Deus passa a ocupar lugar central em nós.
Até parece que Jesus estava refletindo sobre a conhecida frase do poeta Mario Quintana: “Amar é mudar a alma de casa”. Quando nós estamos cientes de quem somos, isto é, conhecemos um pouco melhor a nossa casa e todos os objetos que a compõem então nós estamos prontos para ir de encontro às outras pessoas.
Mas, quem cuida apenas do seu coração acaba desconsiderando que o/a outro/a também é importante. Quem cuida apenas do seu coração não consegue amar porque olha para os/as semelhantes de uma maneira egoísta, ou seja, pensa-se somente naquilo que o/a próximo/a pode lhe apresentar como benefício.
Quando Quintana afirma “amar é mudar a alma de casa”, uma idéia presente é que só consegue amar quem conhece a si mesmo/a e se lança em direção ao/à outro/a. Permite-se entrar na casa do/a semelhante para compartilhar, aprender e ensinar. Permite, também, que o/a outro/a entre em sua casa para compartilhar, aprender e ensinar. Tomando essa idéia e somando-a ao ensino de Jesus, entendemos que amar não significa anular-se em prol do/a outro/a, tampouco amar significa passar por cima do/a outro/a a fim de que ele/a nos venere e obedeça cegamente aquilo que ordenamos.
Quem ama de fato não deseja possuir a outra pessoa, mas sim caminhar ao lado dela. No momento que se caminha ao lado o ciúme não consegue florescer. O ciúme é um sentimento movido pela insegurança de si e medo de que o/a outro/a não nos olhe e nos troque. O ciúme indica que a pessoa não conhece e nem valoriza a sua casa e não está disposto/a a conhecer e valorizar a casa do/a outro/a. A pessoa é tão insegura que ela quer compensar sua insegurança escravizando o/a outro/a, tendo o/a outro/a em sua posse. Quem deseja se apoderar do/a semelhante não consegue amar. É necessário conhecer um pouco de si para depois se dispor a andar com o/a próximo/a.
Deus é este ser que se conhece plenamente, conhece plenamente os/as homens/mulheres e por isso se oferece em amor. Ele sai de si para oferecer a salvação, o amor, a paz, o consolo, a libertação, o ânimo e a restauração. Por isso que o “mandamento” completo afirma: “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. E amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
Quando nós nos amamos, nós estamos cientes que na nossa casa estão presentes histórias, valores, projetos, desejos, qualidades, defeitos, aptidões, medos e pontos de vista. O mesmo se dá na vida daquele/a a quem nos propomos amar. Nós nos valorizamos mutuamente, nós aprendemos juntos, nós nos ajudamos em nossas fraquezas e limitações, e nós nos voltamos Àquele que nos amou de tal maneira que deu seu filho unigênito para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Este é o convite que Deus nos faz: amar o/a próximo/a como a ti mesmo/a. À medida que formos experimentando este amor, o Espírito vai agindo mais intensamente em nosso coração de uma tal maneira que as relações na família, na igreja, nos círculos de amizade, no trabalho, na escola adquirem uma maior qualidade. Além disso, as relações que temos com a natureza, com as cidades e com o campo também mudam porque começamos a viver a lógica do amor presente no Evangelho.
A vontade de Deus para a nossa vida é que sejamos gratuitamente transformados/as pelo amor. Ouçamos o que Espírito Santo nos diz porque Ele tem grandes planos para nós. Que o Senhor continue a nos abençoar em nome de Jesus Cristo. Amém.
Graça, paz e bem!
2 comentários:
Esse seu texto é, praticamente, uma oração. Esse amor com força transformadora é quase uma outra dimensão e, de fato, precisaríamos mudar de casa, ou de patamar para experimentá-lo. Muito bom. Parabéns!
Realmente o Lou está coberto de razão !! Belo e delicioso texto....mas tens que escrever mais !!
bjusssssss
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