segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Tradição de Cristo & Tradições eclesiásticas

A transmissão do conjunto de valores e práticas estabelecidas é chamada tradição. Esta é sedimentada com o passar dos anos no interior dos grupos humanos. As tradições são variadas. Como exemplo, elas são compostas por cosmovisões, pareceres, costumes, crenças e informações relacionadas à religião, a moral, a vida social, a profissões, a conhecimentos técnicos etc.

No que tange à “religião cristã” também é possível falar em tradição e/ou tradições. A figura central do cristianismo é Jesus Cristo. Uma vez que Ele é Senhor e Salvador, os seus valores, práticas e reflexões formam a tradição que deverá ser observada pelos/as seus/suas discípulos/as.

O modo de ser de Jesus é mais bem compreendido nos relatos dos evangelistas bíblicos intitulados como Marcos, Mateus, Lucas e João. Todavia, o Filho do Altíssimo também valoriza e reproduz a tradição espiritual formada nos anos anteriores ao seu nascimento por homens e mulheres que se relacionaram com Deus.

Na tradição do Senhor vários elementos do Primeiro Testamento são retomados, algumas novidades são inseridas e uma nova maneira de interpretar a existência é apresentada. Para exemplificar, na práxis de Cristo identificamos a valorização de uma concepção de vivência devocional anterior à monarquia e ao templo do ano 1000 a.C.

Ainda pensando neste exemplo, Jesus retoma-o e o torna mais abrangente. A vida devocional não mais se restringe ao estudo e meditação das Escrituras, à oração, ao jejum e ao culto comunitário no templo. Por isso, a adoração, o louvor e a reverência ocorrem em qualquer espaço. O modo como os/as discípulos/as trabalham, estudam e se relacionam indicam ou não a comunhão destes/as com Deus.

A tradição de Cristo composta por palavras, ações, análises, visões e valores é quem direciona toda a jornada da Igreja. Ela orienta toda a vida dos/as seus/suas seguidores/as. Outras tradições podem ser mantidas, transformadas ou deixadas de lado. Na tradição do Senhor isso não pode ser feito. Esta os/as cristãos/ãs não negociam de forma alguma, antes procuram compreende-la cada vez mais se valendo das experiências com o Senhor e das pesquisas teológicas e históricas sobre Jesus Cristo.

No cristianismo, os costumes, os hábitos, as estruturas organizacionais, as formas litúrgicas comunitárias das igrejas espalhadas pelo mundo mudam segundo as culturas, os tempos e as novas demandas. Estes elementos secundários, muitas vezes erroneamente “sacralizados” e agregados à tradição de Jesus, têm prazo de validade. Eles não têm o mesmo peso que a ética e a salvação de Cristo.

Não obstante, as confrarias têm as suas tradições para além da tradição de Jesus. Como exemplo, destaco as igrejas Anglicana, Assembléia de Deus, Batista, Congregacional, Luterana, Metodista e Presbiteriana. Estas comunidades cristãs embora procurem ser fiéis a Cristo tem as suas tradições, isto é, suas ênfases, seus costumes e suas características.

Desde que não agridam nem enclausurem o Evangelho, que é Jesus Cristo, estas tradições podem ser afirmadas. Mas é preciso avaliar de tempos em tempos se não existem aspectos destas que precisam ser abandonados, desenvolvidos ou reformulados em decorrência das transformações sócio-culturais. Isto é urgente, pois a Igreja tem a tarefa de viver e anunciar o Reino de Deus às pessoas em seus contextos.

Jesus Cristo tem supremacia sobre todas as tradições eclesiásticas e pessoais. Convertamo-nos, pois, diariamente ao Senhor.

Graça, paz e bem!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Uma Igreja relevante

Eu gosto de ler e refletir sobre as narrativas dos evangelistas bíblicos a respeito da maneira como Jesus Cristo vivia, demonstrava e anunciava a Boa Notícia aos diversos grupos sociais. Ele se esmerava em falar sobre as coisas de Deus respeitando a realidade dos homens e das mulheres que se punham a ouvi-lo. A linguagem e os exemplos utilizados por Ele faziam todo o sentido para aqueles que estavam ao seu redor.

O Mestre se valia dos recursos didáticos da época. O seu ensino era marcado por histórias, exemplos, parábolas e metáforas. Aliás, não podia ser diferente disso se de fato quisesse ser compreendido. Cristo não abria mão dos fundamentos espirituais e por isso se relacionava com todos sem medo. Esta postura fez com que Jesus fosse alvo de comentários maldosos estrategicamente pensados como: comilão; beberrão; amigo de arruaceiros, pobres, prostitutas, publicanos, doentes, vagabundos; etc.

A mensagem e os atos de Jesus eram adequados à realidade das pessoas do primeiro século. Tamanha adequação fez com que políticos e religiosos daquela época o odiassem e tramassem o seu assassinato. Por outro lado, crianças, mulheres, analfabetos, intelectuais, pescadores, artesãos, roceiros, comerciantes, pobres, ricos, descrentes e religiosos ao experimentarem a libertação, o perdão e a salvação de Jesus passavam a amá-lo e segui-lo.

Posteriormente, após a ressurreição, o Espírito Santo continua atualizando a mensagem cristã, falando às pessoas em seus contextos e suscitando líderes que estejam firmados no Evangelho, sejam sensíveis à Sua voz, procurem atualizar a Mensagem para a contemporaneidade, confiem na obra salvífica do Senhor, dêem respostas cristãs às demandas das pessoas que vivem no século XXI e ajudem homens e mulheres a transformarem a Boa Notícia em atos concretos.

Ao olhar para todas as palavras e ações do Deus Trino na Bíblia concluo que Ele respeitou a existência e a cultura de cada um dos seus servos. O Senhor esperava a melhor hora para agir, escolhia as palavras certas e dava exemplos precisos por amor. Posso afirmar que Ele foi e continua sendo um exímio hermeneuta.

Para que uma igreja seja relevante para o seu contexto é de suma importância firmar-se no Evangelho, ousar dialogar com a realidade e adequar-se à cultura das pessoas que serão evangelizadas. Para tanto, a comunidade cristã não pode se fechar em seus modelos litúrgicos, em seus preconceitos, em suas formas administrativas, em suas burocracias, em seus tradicionalismos e em seus misticismos.

Apesar da existência de grupos cristãos que se fecharam a ponto de enrijecer-se e rechaçar a realidade social e outros que trocaram o Evangelho por um “Jesus” pós-capitalista, golpista e “desatador de nós”, a Igreja de Jesus Cristo não pode se curvar a estas posturas. A Igreja tem que levar a sério o lema da Reforma Protestante: “Igreja reformada sempre reformando”.

Que Deus ajude a mim e a você a encarar o mundo atual e a servi-lo segundo os valores do Evangelho.

Graça, paz e bem!