terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Natal...


Na perspectiva bíblica, o Natal não tem nada a ver com os sincretismos realizados nos primeiros séculos da era cristã. Tampouco se trata de uma festividade apropriada para se curvar diante do capitalismo e consumismo, anunciado e reverenciado em diversos setores desta tão maltratada nação brasileira. Portanto, nós reafirmamos neste período que há libertação e salvação para o mundo em Cristo Jesus.

Uma vez que seguimos o Calendário Cristão, convencionamos que o Natal é o primeiro tempo litúrgico. Sob pena de tornar-se inócua, esta convenção precisa nos instigar à meditação, reflexão e ação. Mas se a época natalina for apenas a oportunidade para o cumprimento de uma obrigação, em nada nos diferenciaremos das pessoas apaixonadas pela sua forma farisaica e legalista de viver.

Neste ano, em meio à morte de alguns resquícios interiores próprios de um tempo distante do Senhor, eu tive a felicidade de experimentar mais intensamente a Vida do Messias Salvador pulsando em meu interior. Faltam-me palavras para descrever esta Nova Realidade a qual vivo.

Cessaram a opressão e a guerra que insistiam em permanecer em meu coração. O Deus-Menino retornou a nascer. O Menino, que carrega em seus ombros a insígnia de príncipe, alegrou o meu viver. Rememorando o texto de Isaías 9,1-7, declarei novamente os quatro nomes associados ao Cristo: Conselheiro, Forte, Pai e Príncipe.

O bom conselho do Maravilhoso Conselheiro é aquele dado por milagre a fim de ajudar a mim e a você. O Forte aponta para o Deus que tem o domínio das situações e por isso acolhe pessoas enfraquecidas como nós. O Pai indica a eternidade e a paternidade divina que nos consola em tempos de cansaço físico, psíquico e espiritual. E o Príncipe como o soberano pacificador, é o Deus que nos traz a paz mesmo quando estamos atribulados/as.

Na minha casa o presépio exterioriza a vivacidade da fé em Cristo, as luzes piscam anunciando as Boas Novas de grande alegria, o pinheirinho proclama a glória de Deus e o papai Noel está curvado diante do Emanuel, Deus conosco, reafirmando que continuará levando o Evangelho a toda criatura.

Sou grato a Jesus Cristo pela dádiva da Vida. Aleluia.

Graça, paz e bem!

domingo, 23 de dezembro de 2007

4º Domingo do Advento



Acende-se a quarta luz: tempo para refletirmos sobre o Deus Príncipe da Paz.

“Disse Jesus: deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”. [João 14,27]

Graça, paz e bem!

domingo, 16 de dezembro de 2007

3º Domingo do Advento



Acende-se a terceira luz: tempo para refletirmos sobre o Deus Pai da Eternidade.

“Disse Jesus: Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também. E vós sabeis o caminho para onde eu vou”. [João 14,1-4]

Graça, paz e bem!

domingo, 9 de dezembro de 2007

2º Domingo do Advento



Acende-se a segunda luz: tempo para refletirmos sobre o Deus Forte.

“Disse Maria: A minha alma engrandece ao Senhor... Agiu com o seu braço valorosamente; dispersou os que, no coração, alimentavam pensamentos soberbos. Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes.” [Lucas 1,51-52]

“E Jesus, assentando-se, chamou os doze e lhes disse: Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos.” [Marcos 9,35]

Graça, paz e bem!

domingo, 2 de dezembro de 2007

1º Domingo do Advento



Acende-se a primeira luz: tempo para refletirmos sobre o Deus Maravilhoso Conselheiro.

“Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e, como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos; e ele passou a ensiná-los...” [Mt 5,1-2]

Graça, paz e bem!

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Evangelho: compartilhar a Vida

Eu fico incomodado com a compreensão de certos/as fiéis sobre o Evangelho. Independente de suas limitações – advindas dos contextos precários em que se inserem ou decorrentes de fragilidades particulares – tal apreensão das Boas Novas me aborrece. Estes/as “porta-vozes” pensam unicamente em Evangelho à semelhança do anúncio que se faz diante da chegada de uma Escola de Samba: eis a Boa Notícia aí gente!

Apesar dos determinismos marxistas, eu me valho de algumas concepções da dupla de estudiosos Bakhtin & Maingueneau para afirmar que o Evangelho como discurso é mais do que falatório, é mais do que silêncio ruidoso, é mais do que gesto, é mais do que conteúdo, é mais do que forma, é mais do que informações intra (linguagem, forma, tipologia discursiva) e extraverbais (a realidade material em que todos os segmentos sociais estão inseridos, a história, o contexto de um determinado grupo social, os/as interlocutores/as), é mais do que ideologia, é mais do que história, é mais do que cultura... é tudo isso e algo mais. Acrescento que este enunciado real possui um elemento diferenciador em relação a outros, a saber, o transcendente que se concretiza no cotidiano dos/as atuais discípulos/as de Cristo. Evangelho é a dádiva da Vida que deixa mais viva a interação entre o/a autor/a (enunciador/a), o/a leitor/a (interlocutor/a) e o/a herói (o que ou quem da fala). Conseqüentemente, é possível asseverar que o Evangelho é “dialógico”, “dialético” e “teológico”.

Em suma, o Evangelho ilumina e transforma as percepções e ações humanas. Estas ocorrências levam os/as cristãos/ãs a compartilharem a Boa Notícia com palavras, ações, silêncios e sentimentos em todas as suas interações. Desta maneira o fôlego de Vida re-anima a humanidade caída e enche de vitalidade a nossa vida-vidinha-vidona.

Graça, paz e bem!

terça-feira, 27 de novembro de 2007

70 Brasil

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) divulgou hoje seu relatório 2007 e, dentre 176 países classificados, o Brasil é apontado como o 70º país com melhor qualidade de vida. Em se tratando da ONU é sempre válido observar as considerações tecidas por esta “instituição” com cautela e desconfiança redobrada. Todavia, é possível considerar este apontamento como um alerta. Suspeito que as políticas de desenvolvimento humano em nosso país, no mínimo, são desprovidas de competência. Mas a fim de não errar muito... eu deixo esta minha assertiva atrelada à suposição.

E depois alguém nos pergunta: Por que será que a Teologia da Prosperidade encontra um solo fértil em nossa Pátria Amada Brasil?

“Vamo chutá bola qui nóis ganha mais!”

Quem tem ouvidos... ouça.

Graça, paz e bem!

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Adhemar de Campos: 30 anos de Ministério

Um discípulo de Jesus Cristo muito conhecido no meio da Música Popular Cristã recebeu, no dia 30 de maio de 2007, mais uma bênção. Na referida data ocorreu um encontro musical a fim de agradecer a Deus por 30 anos de Ministério. O aniversariante foi o irmão Pr. Adhemar de Campos - cujos cabelos ainda estão pretos. As canções entoadas receberam um toque especial em decorrência da oportuna participação da Orquestra Filarmônica de São Caetano do Sul. Adequado, também, foi o espaço utilizado para a gravação do DVD festivo, a saber, o “Theatro São Pedro” localizado na cidade de São Paulo.

O meu primeiro contato com este querido irmão se realizou em 1986. Deste período em diante eu acompanho o Ministério dele. Eu posso dizer que o Pai Celeste, através deste homem, me ensinou muitas coisas a respeito de Deus e da minha própria vida. Valeu à pena todo este tempo. Qualquer expressão de gratidão da minha parte ao Senhor se mostra demasiadamente limitada. Não obstante a participação de certos/as artistas da música gospel, eu fiquei muito feliz com a contribuição de alguns/algumas cristãos/ãs (especialmente Nelson Bomilcar, Rachel Novaes e Ronaldo Bezerra) que cantaram em parceria com o Adhemar, bem como com a simplicidade deste servo que há 30 anos adora e louva à Trindade Santa através da música.

Se você gosta de boa música cristã deixo contigo uma sugestão: assista o DVD Comunhão e Adoração 6.

Graça, paz e bem!

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Reforma urgente

...Os tesouros do Evangelho são redes com que, desde a antigüidade, se pescam homens de bem. Os tesouros das indulgências são redes com que agora se pescam os bens dos homens. (Lutero, Teses 65-66)

Com essa afirmação, das teses 65-66 em epígrafe, Martinho Lutero contrapõe o valor do Evangelho ao valor das indulgências, denunciando-as como não sendo um meio para chegar à salvação. As indulgências eram apenas um instrumento para roubar e massacrar as pessoas, em nome de Deus. A carnificina era praticada a céu aberto e os urubus carniceiros se fartavam. Nesse contexto apodrecido e fétido, Lutero foi o profeta do povo frente a uma “igreja oficial” que usurpara o direito à salvação dada gratuitamente por Cristo para toda humanidade.

Martinho Lutero entende que só a fé é suficiente para o perdão de pecados. Antes, devido sua obstinação em ser salvo pelas obras e pela confissão dos pecados, Lutero chegava a ficar horas se confessando, e às vezes quando se esquecia de um pecado voltava correndo a fim de confessá-lo, tal a pertinácia e obstinação que tinha pela salvação. Depois de várias reflexões, crises e momentos de angústia, ele chegara à conclusão da “justificação pela fé”, e que nesta se resumia toda doutrina cristã.

Por conseguinte, elabora-se a doutrina da “justificação pela fé”, que foi uma das apreensões luteranas mais importantes, pois nela o/a discípulo/a está certo/a de que sua salvação não depende das obras, mas sim da fé mediante a incomensurável Graça. Quando Paulo diz: “o justo viverá por sua fé”, segundo Lutero, quer dizer que a vida do/a justo/a deverá ser marcada por uma crença na salvação dada por Deus em Cristo Jesus, e que não há outro meio de chegar ao Pai Celeste se não for pela fé. Cabe ressaltar que juntamente com a fé deve estar o amor, pois de nada vale a fé sem o amor.

A sistematização da “justificação pela fé” traz uma contribuição significativa para os/as cristãos/ãs daquele tempo no que concerne ao seguimento de Jesus Cristo, uma vez que os/as mesmos/as compreenderam que pela fé seriam salvos/as, e que não careciam pagar indulgências a fim de ter um tesouro no céu, ou ainda, para que sua salvação fosse garantida. Agora a fé, e somente a fé, é suficiente para salvação e para experimentar a Graça de Deus.

Apesar de todas essas contribuições produzidas pela Reforma, a salvação pela fé é uma questão mal compreendida em vários setores eclesiais hoje em dia. Certas pessoas têm a idéia de que fazendo barganhas com “deus” poderão obter os benefícios materiais da “divindade” e salvar-se do pecado e da morte. Há os que ainda pensam ser a prática de boas obras o caminho para obter a salvação, e não uma conseqüência automática da fé em Cristo. Há os que fazem com que o dinheiro pago seja a garantia dos tesouros no céu, ou ainda aqui mesmo na terra – sugerindo que as pessoas que “pagarem” o dízimo e a oferta terão mais bênçãos a receber da parte de Deus. Chegam até à falta de escrúpulos de constranger as pessoas para que façam doações volumosas para Deus, como se o Senhor precisasse de algum dinheiro nosso dessa forma!

Muitas “igrejas” também têm aderido a esta fé neoliberal, excludente e mercenária. Desta adesão horrenda, pornográfica e absurda desencadeiam-se competições entre comunidades de fé; exploração financeira dos/as leigos/as pela liderança religiosa; exaltação do “deus Mercado”; distribuição de bênçãos, vidências e cura “divina” mediante pagamento; e ausência de relacionamento comunitário saudável.

Presenciamos uma decadência em várias áreas do cristianismo brasileiro, semelhante àquela enfrentada por Lutero em sua época. Parece haver um processo cíclico na história, e os erros não estão de forma alguma consertados por aquilo que se nos apresenta pela memória através da história. Grande parte das pessoas não lêem, não refletem e, por isso, cometem os mesmos pecados. Hoje, por exemplo, falta um regresso à Escritura, porque não se tem dado importância devida a ela. Quando Lutero chega à conclusão de que somente a Escritura é a autoridade máxima, ele entende que a Palavra confere aos/às homens/mulheres a oportunidade de trilharem o Caminho da Felicidade que lhes garante a oportunidade de desfrutarem um pouquinho do Céu nesta Terra. Porém, vários/as destes/as corromperam seu valor para terem o poder em suas mãos, a fim de subjugar as pessoas para que essas façam a sua vontade, e não a de Deus.

Talvez o mundo hodierno esteja carecendo de um porta-voz profético como foi Lutero, para levar o povo a uma compreensão de que só a fé é suficiente para a salvação, e que a vida e obra de Jesus Cristo tem autoridade máxima sobre os/as crentes. Isso precisa ser anunciado em nossos dias, pois muitas pessoas vão a suas “igrejas” como se fossem semanalmente a um clube social, não meditam sobre a fé e não querem saber de um profundo estudo das Escrituras. Esses indivíduos querem apenas extravasar suas tensões e dores no culto, fazendo do mesmo um culto irracional, cheio de emoções selvagens, sem reflexão alguma e que lhes tragam benefícios concretos imediatos. Pensam que, conforme dizem alguns/algumas líderes, se ofertarem e “dizimarem” (segundo o dicionário da língua portuguesa dizimar é destruir... mas tudo bem.) serão ricamente abençoados/as. Nesta lógica demoníaca e perversa, a fé deve ser do tamanho da contribuição. Assim, quem crê muito, oferta muito e lucra muito. Logo, quem crê pouco, oferta pouco e lucra pouco.

O que estamos enfrentando nada mais é do que uma mercantilização da fé e uma falta de conhecimento das Escrituras por parte do povo. Tudo isso é agravado pelas disparidades sociais, pelo descuido dos governos para com as pessoas mais frágeis da sociedade, pelo descaso com as áreas da saúde e educação, pelo sucateamento da segurança, pelas alianças entre poderosos/as e bandidos/as, pelo patrocínio da violência, pelo crescimento da sujeira na Política que não nos permite ver os/as raros/as políticos/as sérios/as e profissionais em nossa sociedade, entre outras coisas que serviriam de tema para vários livros.

É óbvio que ao discorrer sobre a Reforma Protestante não há como negar que ela teve motivações, também, na esfera política-econômica, cultural e social. Todavia, eu quero destacar os aspectos teológicos-eclesiais que permeiam este acontecimento histórico como profícuos para uma vida cristã adequada. Por isso, com este 490º aniversário da Reforma Protestante, concluo: urge que se levantem mais reformadores/as. Que seja uma verdade o lema: Igreja reformada, sempre reformando. Está difícil, mas eu não perco a esperança.

Graça, paz e bem!

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Antonio Gouvêa Mendonça: 1922-2007

O Brasil perdeu, no dia 20 de outubro de 2007, um dos sociólogos que trouxe importantes contribuições para a Sociologia da Religião, especialmente no que concerne aos estudos dos protestantismos em terras brasileiras. O professor Mendonça, além de suas funções acadêmicas, foi pastor da Igreja Presbiteriana Independente. Ele foi sepultado em Osasco-SP, no dia 21. O ofício fúnebre ocorreu no templo da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de Osasco, onde foi pastor (Rua Reverendo João Euclides Pereira, 150).

Este fato me faz lembrar do sermão do meu amigo Luiz Carlos Ramos – publicado neste ano. Esta prédica é fundamentada no texto de Cantares 8,6. Ele afirma o seguinte:

“O texto do Cântico dos Cânticos – ‘O amor é forte como a morte’ (Ct 8,6) – nos apresenta as duas maiores forças da natureza: o amor e a morte – Eros e Thanatos. Só há uma força capaz de tentar matar o amor: a morte – que nos separa das pessoas que amamos. Entretanto, há uma única força capaz de sobreviver à morte: o amor – porque o fato de nos separarmos de quem amamos não nos impede de continuar a amá-lo. O amor sobrevive à morte porque continuamos amando a pessoa que morreu. E, no nosso amor, ela continua a viver. Nós o amamos, e por isso sabemos que ele viverá para sempre. Que Deus no ajude a honrarmos a sua memória. Amém.”

Que Deus conforte a todos os familiares do nosso professor, pastor e irmão. Eu aproveito a oportunidade para dedicar essas poucas palavras a três famílias enlutadas da igreja a qual pastoreio: a vocês queridos/as dedico o meu amor, carinho e orações. Que o Espírito Santo sopre suas vidas a alegria de ter pessoas amadas por perto, mas principalmente guardadas debaixo de sete chaves... dentro do coração.

Graça, paz e bem!
***
Biografia e Currículo do Prof. Dr. Antonio Gouvêa Mendonça: http://www.antoniomendonca.pro.br/

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Cristologia, Jesulogia e UB 313

É muito interessante rever as discussões medievais e modernas sobre o Cristo da fé, também como o Jesus da história, da literatura e da psicologia. Absolutizações, reducionismos, ambigüidades, precisões, parcialidades e exageros são cometidos sempre nestas altercações de cunho técnico ou não. É uma grande aventura observar os debates gestados nos setores teológicos (eclesiais e acadêmicos) e das ciências humanas e sociais, mas eu confesso que gostaria de saber o que a Culinária, a Ciência da Computação e a Meteorologia pensam a respeito deste tema.

Eu gosto da Cristologia e da Jesulogia feita pelos crentes, céticos, cientistas, esotéricos, fundamentalistas (embora eu ainda não saiba ao certo o significado deste termo), desradicais e crentes-céticos-cientistas-esotéricos-fundamentalistas-desradicais. Todavia, a mim me parece que qualquer tipo de análise se torna mais oportuna e eloqüente quando você experimenta e anda cotidianamente com Jesus Cristo.

Certa feita, cansado dos “crentinismos” e “cientificismos” eu enviei minhas crises todas para o 2003 UB 313, isto é, aquele planeta anão que recebeu o nome oficial de Eris (a deusa da discórdia na mitologia grega) e o seu satélite recebeu o carinhoso nome de Dysnomia (na mitologia é o espírito demoníaco da falta de nomos/ordem-lei.). Em seqüência eu me permiti viver por-para-com este Ser tão-humano-tão-divino chamado Jesus Cristo... e não é que foi um “trem-bão-demais-da-conta-tchê”. As reflexões científicas e eclesiais fizeram mais sentido. Assumi certas idéias, exclui outras e algumas deixei em aberto. Antes que você conclua e saia dizendo por aí... eu declaro: a minha paciência relacionada à temática em pauta está deveras prejudicada, entretanto a minha paz-ciência está ótima... obrigado.

Graça, paz e bem!

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Deus está no silêncio

Um provérbio bíblico muito conhecido é o seguinte: “No muito falar não falta transgressão, mas o que modera os lábios é prudente”. Eu me deparei com esse texto de Provérbios 10,19 e me atrevi a pensá-lo de um modo não convencional, isto é, para além de sua aplicabilidade nas relações interpessoais. Propus-me a refletir sobre a minha relação com Deus e logo me senti compelido a aquietar-me. Silenciar muitas vezes traz constrangimento, pois no silêncio não há como eu fugir do encontro com o Senhor e comigo mesmo. É muito comum eu viver sufocado pelos ruídos interiores e exteriores. Por outro lado, emito sons em demasia porque a ausência de barulho me incomoda.

Às vezes falo demais, questiono demais, lamento demais e acabo errando para o meu próprio mal. Tanto falatório não me deixa ouvir as vozes das ocorrências que estão se realizando ao redor, tampouco consigo ouvir o Espírito Santo falar ao meu coração. Um grande desafio é calar minhas perguntas desnecessárias. Ao perguntar em exagero eu acabo perdendo a faculdade de escutar. As minhas dúvidas não me permitem notar e compreender as respostas ou captar os sinais celestes de que Deus nunca me abandona. Na perspectiva de Salomão, ter o silêncio como meta é o mesmo que ter como objetivo a sabedoria, ou seja, a soma do conhecimento com a experiência.

Quando eu falo em demasia torna-se difícil apreciar as muitas nuances e belezas que estão ao meu redor. É por isso que uma das mensagens implícitas neste provérbio é que o/a homem/mulher sábio/a fala menos e escuta mais. Ele/a não se apressa em dar nomes às realidades, aos dilemas da vida, e soluções para questões delicadas. O olhar do/a sábio/a acompanha o seu falar, isto é, ele/a avalia com vagar porque o grande afã em falar-questionar-concluir o/a conduz ao equívoco, à loucura e a toda sorte de transgressões.

Não dizer as coisas com pressa é a chave para que eu erre menos. Mais vale o silêncio apropriado ao falatório desgovernado e errante. Por isso, eu me sinto convidado por Deus a demorar-me naquilo que eu necessito proferir. O próprio Cristo me liberta da tendência de encher os silêncios com milhares de ruídos. Eu me lembro da expressão “falar mais que a boca” indicando o perigo que incorre o/a “bocudo/a”. No muito falar não falta transgressão.

É preciso ter em mente o que afirma a letra da canção: “Eu Te busco, Te procuro ó Deus... no silêncio Tu estás”. Se você quiser me acompanhar, aquiete-se e ouça o que o Pai Celeste está falando. A Palavra do Senhor nos exorta a meditar mais, para ouvir mais a voz de Deus. Abramos o nosso coração para acolher o bom ensino em nome de Jesus Cristo.

Que Deus nos ajude na nossa tarefa diária a fim de que possamos ter uma boa caminhada sob a direção do Espírito Santo.

Graça, paz e bem!

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Evangelho com amor, simplicidade e arte

Uma experiência muito agradável foi assistir a uma das gravações do programa Sr. Brasil, apresentado por Rolando Boldrin, na Rede Cultura. No dia 24 de julho de 2007 o programa foi exibido na TV.

Aqueles/as que ali estiveram presenciaram um tempo-espaço de rara beleza teatral, poética e musical com os/as seguintes artistas: Rolando Boldrin; Cida Moreira; Jair Rodrigues; Luciana Melo; Vitor Lopes e Chorando as Pitangas.

No meio cristão brasileiro existem pessoas com talento, capacitação e profissionalismo semelhantes aos/às artistas supramencionados/as. Eu confesso que gostaria de ver muito mais estes/as irmãos/ãs colocando os seus dons à serviço do Reino... a fim de que o Evangelho fosse proclamado com arte.

Chamem os/as contadores/as de histórias, músicos/as, poetas/poetizas, artesãos/ãs, atores/atrizes, escultores/as, dançarinos/as, pintores/as etc. Eis que vejo adultos, jovens e crianças proclamando o Evangelho com criatividade... eu tenho a certeza de que essa visão pode se concretizar na vida de quem se dispuser a ser conduzido/a pelo sopro criativo do Espírito Santo.

Boa Nova com amor, fé, simplicidade, arte, sonoridade, conteúdo, plasticidade, beleza e poesia faz bem aos corações Divino e humano.

Graça, paz e bem!

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Guerra: uma ironia paulina

Na perícope de Efésios 6,14-17 encontram-se as seguintes assertivas:

“Estais, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade, e vestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz, embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus”.

Eu gosto desta ironia e crítica paulina repleta de profundo ensinamento sobre o modo como é possível caminhar pacificamente sob a doce coordenação de Jesus Cristo. Em outros termos, o/a discípulo/a não faz parte de um exército, nem se orienta pela lógica guerreira, tampouco sente prazer com os rumores de guerra. Me desculpem, mas até hoje eu não consigo ver Jesus convocando, formando e preparando um exército de discípulos/as.

Na época de Paulo o deus romano (Imperador) conquistava o coração dos/as “fiéis” (súditos/as) com a pax. Esta por sua vez se dava mediante a força das armas, da opressão, da crueldade, da guerra, do sadismo, do castigo, do assassinato e da imposição. O culto que esse deus exigia dos/as “crentes” era um ordenamento inquestionável e obrigatório. De vez que os/as cidadãos/ãs obedecem a ordem do seu “senhor” eles/as “herdam” o Império Romano. Portanto, seguir a esse "Estado" autoritário era um peso terrível para homens e mulheres.

Jesus vem trazer salvação e libertação de todo jugo proporcionado pelo pecado, pelo diabo e pela lógica romana. Cristo não guerreia, não exige massacres, não impõe, antes promove a salvação, a felicidade, a vida plena e a morada no Reino do Céu. Se de um lado há o exército imperial, do outro está a multidão de amigos/as de Deus resgatados/as pelo Cordeiro que vivem a lógica do Evangelho.

O/A crente não é soldado/a, não fura o “bucho” das pessoas com a "peixeira", não estraga o moletom de jovens com tiros de “AK47” ou “fuzil AR15”, não degola os/as infiéis em nome do Senhor, não lança mísseis e bombas nucleares em direção aos/às inimigos/as, não "metralha" humanos-demônios ou demônios-humanos com uma “Browning .50 Espiritual”, não se organiza numa “SWAT celestial” portando um “trezoitão divino” pronto para “fritar” as hostes malignas representadas nesta terra por homens/mulheres compromissados/as consigo mesmos/as.

Atentar-se para as Boas Novas anunciadas por Jesus Cristo é de grande valia. Numa perspectiva paulina é possível declarar: chega de cinturões, couraças, sandálias cheias de cravos, escudos, capacetes e espadas! Basta ao/à fiel a verdade, a justiça, o evangelho da paz, a fé, a salvação e a Palavra de Deus.

Cada crente já trava “grandes batalhas” em seu coração por conta de sua tendência ao individualismo, à arrogância, à competição, à mentira, à prepotência e a toda sorte de pecados. Por outro lado, existem seres espirituais malignos que buscam atrapalhar significativamente a vida das pessoas. Uma vez que estas asserções são verdades, somente com o exercício do amor que a vitória pode ser alcançada. Armas enganam, ferem e matam. Amor restaura, salva e liberta. Não há pecados ou entidades demoníacas que resistam ao amor de Cristo que opera na vida dos/as discípulos/as.

Que o Pai Celeste nos liberte dos bélicos desejos de “matar, roubar e destruir” os/as “opositores/as” do Evangelho. Que o Cristo Vivo nos ajude a ser “sal da terra e luz do mundo”... ao invés de traçar estratégias para “saquear infernos”. Que o Espírito Santo nos instigue a rever as nossas músicas militares, as nossas orações agressivas e o nosso testemunho violento e impiedoso.

Até segunda “ordem”... o/a discípulo/a é ministro/a do Amor e da Reconciliação.

Graça, paz e bem!

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

O discurso desajuizado da “lei” e da “graça”

Às vezes me cansa esse discurso sobre o tema “lei e graça” desvinculado de discernimento, sabedoria e Graça. Eu fico a pensar: de onde tiraram esta história de “lei”? Os tradutores da Septuaginta e da Vulgata Latina, apesar do esforço, foram muito infelizes nesta traição, digo tradução... e muita gente gostou do erro!

Quando se analisa o Primeiro Testamento a palavra comumente usada é Torah. Torah não é “lei” nem aqui em São Paulo e nem na Bahia (um forte abraço aos/às irmãos/ãs baianos/as!). Torah significa Bom Ensino ou Boa Instrução que conduz à Felicidade. É certo que alguns elementos que compõe a Torah deixam de fazer sentido após a vinda de Jesus Cristo relatada no Segundo Testamento, mas daí a afirmar que ela é lixo parece-me um exagero.

A Torah não é entulho. Entulhos são as pessoas que transformam a Torah em “lei” (ordem, peso, medo, jugo). Entulhos são aqueles/as que sentem êxtases por viverem, de modo hipócrita ou não, um legalismo cego, frio e doentio. Entulhos são os indivíduos que fazem da sua “lei” a prisão sufocante do Evangelho.

Ao pensar em Jesus eu o vejo como a Boa Notícia que me ajuda a compreender a Torah, a minha vida e a comunidade contemporânea de discípulos/as do Ressurreto. Somando-se a isso, a minha impressão é que o apóstolo Paulo se opõe à “lei de judeus-cristãos legalistas” e não à Torah que obtém um sentido muito mais libertador, amplo e salvador com Cristo.

Talvez esteja na hora de alguém declarar que Torah não é “lei”, que Evangelho não é “evangelho de legalistas” e que ser discípulo/a de Cristo não é ser “evangélico/a”. Tomar cuidado com gente desajuizada além de ser uma “lindeza caetânica” possivelmente seja um Bom Conselho.

Graça, paz e bem!

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Por trás das palavras

MESTERS, Carlos. Por trás das palavras: um estudo sobre a porta de entrada no mundo da Bíblia. Petrópolis: Vozes, 1998.

Peço licença para um comentário apaixonado: Eu estou relendo um livro maravilhoso intitulado “Por trás das palavras...”. Se você puder: leia, releia, medite e beneficie as pessoas com as quais você convive.

Eis uma "pitada" do livro:

“O instrumento mais importante da interpretação não é o microscópio com que se olha, mas são os olhos que olham pelo microscópio. Os olhos, porém, não se fabricam nem recebem diplomas. São dons que se recebem do Autor da vida e que nascem da convivência com os outros”.

Antes de comentar a frase não se esqueça da recomendação bíblica: “O que responde antes de escutar terá a estultícia e a confusão” [Provérbios 18,13]

Que pressão da minha parte... perdoe-me.

Graça, paz e bem!

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Aventuras de um pesquisador: "exorcismo"

Será que estou no Coliseu, no Pacaembu, em um Matadouro... sei lá, começa o diálogo:

- Faltam alguns minutos para começar.
- Mas que demora!
- Calma, a taxa paga vale a pena.
- Estou achando que fui enrolado.
- Não, é assim mesmo. Nós vamos ver.
- Sangue?
- Não. Nós vamos ver.
- Emoção?
- Não. Nós vamos ver.
- Ação?
- Calma.
- Mas não é nada disso que eu falei?
- Mais ou menos.
- Eu não estou agüentando mais.
- Quando você ver... aí você poderá extravasar.

De repente percebe-se um movimento no lado esquerdo da platéia. Sem demora uma questão é feita ao grande animador:

- É este homem?

Rapidamente vem a resposta:

- Não!

Outro movimento... agora no lado direito. O público fica apreensivo. E novamente a pergunta:

- É este?

Noto os olhos vidrados da multidão sedentos por sangue, emoção e ação... A apreensão contagia a massa. Afirma o animador:

- Não.

O povo alvoroçado grita:

- Mostra, mostra, mostra!

Um silêncio aterrorizante se dá. Percebo a tensão naqueles que procuram o indivíduo que será escolhido. Todas aquelas pessoas respirando juntas criam um imenso calor. Alguns se agarram aos seus livros. Outros cruzam os dedos e fecham os olhos. Há também quem comece a desfazer o seu lindo penteado. Bem próximo a mim uma mulher aparentemente estressada, com a situação e com a multidão que se aglomera, olha para trás a fim de visualizar sua filha e o genro. Percebo que ela está com falta de ar e um pouco atordoada. Sem demora o animador berra e aponta o dedo:

- É ela!

Pensei eu: mulher, de novo mulher, só dá mulher neste palco... justamente aquela que passava mal naquele ambiente inóspito e insalubre. Os auxiliares do animador correm em direção a mulher, seguram os seus braços. O animador fixa o seu olhar na vítima-cordeiro, fala algo, movimenta as mãos... eis a hipnose. A mulher só queria ar puro... infelizmente terá que amargar o ar poluído e viciado dos responsáveis pelo abate. Grunhidos e brutalidades podem ser contempladas e ouvidas. Em meio a isso o povo vaia, grita, aplaude, salta, lança olhares de ódio, movimenta bruscamente as mãos. É chegada a hora. A partir deste instante toda raiva, medo, angústia, frustração, ansiedade e dor se concentrarão naquele palco. O animador avisa:

- Ninguém veio aqui pra nada não!

Eis a cena: um matadouro, um animal, um carrasco e um empresário. Ou será: um goleiro, um chutador, um apito e uma multidão? É óbvio que há casos verídicos que devem ser tratados com todo o cuidado e respeito possível, no entanto o “Exorcism Show” me enoja. Mas o problema é só meu. Sou eu quem está pesquisando. É difícil tirar os óculos de discípulo de Cristo e colocar os óculos de cientista. Eu aprendo... entretanto dói.

Graça, paz e bem!

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

O meu socorro

Elevo os meus olhos para os morros:
de onde me virá o socorro?


Elevo os meus olhos para Brasília:
de onde me virá o socorro?


O meu socorro vem do Senhor,
que fez o céu e a terra.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Profetismo: compromisso, fidelidade e consagração

Constatações

Infelizmente a realidade de um grande número de igrejas cristãs no Brasil não se traduz numa relação com Deus, mas sim, com o Mercado. Outra face vista nesta realidade eclesial é a alienação de homens/mulheres das Comunidades de Fé, feita por algumas pessoas da classe eclesiástica que atuam apenas como repetidoras do paradigma mercadológico contemporâneo, isto é, satisfazer os desejos do/da cliente. Se de um lado nota-se a ausência de entendimento profético por parte de determinados/as líderes, do outro há aqueles/as que fazem “vistas grossas” à atuação dos profetas do Antigo Testamento e do próprio Jesus Cristo na sociedade do seu tempo.

Destarte, muitos/as fiéis acabam ficando à mercê de uma teologia opressora, pregada em muitos púlpitos, centralizada no “quem paga, manda”. Há, portanto, carência do ensino que tornaria a fé em algo mais concorde com os preceitos bíblicos e que promoveria uma ação profética mais coerente com a Palavra de Deus.

Uma porção da Bíblia

As constatações acima podem ser confrontadas com o texto de Miquéias 3,5-8:

5 Assim diz o Senhor contra os profetas que fazem errar o meu povo, que clamam: Paz! quando têm o que mastigar, mas contra aquele que nada lhes mete na boca, preparam guerra. 6 Portanto, se vos fará noite, sem profecias, e haverá trevas, sem adivinhações. Por-se-á o sol sobre estes profetas, e o dia sobre eles se escurecerá. 7 Os videntes se envergonharão, e os adivinhos se confundirão. Todos eles cobrirão os seus lábios, porque não haverá resposta de Deus. 8 Mas quanto a mim, eu estou cheio de poder, do Espírito do Senhor, e cheio de justiça e de força, para anunciar a Jacó a sua transgressão, e a Israel o seu pecado.

O profeta Miquéias, ao contrário de alguns falsos profetas de hoje, compreendeu muito bem o que é ser profeta. O livro de Miquéias revela que o profeta nasceu em Morasti, uma aldeia próxima a Jerusalém e atuou no dias de Joatão, de Acaz e de Ezequias. No ano de 722 a.C., a Assíria, sob o reinado de Teglat-Falasar III, subjuga os países da região da Palestina. Sendo assim, o reino de Judá se rende ao jugo imposto pela Assíria e para não ser destruída submete-se a pagar um alto tributo. Uma vez que Jerusalém era obrigada a pagar esta taxa, as explorações e manipulações para que os poderosos jerusolimitanos (rei, chefes, latifundiários, juizes, sacerdotes, profetas) mantivessem seu status quo ocorria em grande escala e a maior prejudicada era a população. É, portanto, neste período que surge o profeta Miquéias como porta-voz de Deus para desmascarar os falsos profetas e toda a maldade cometida contra o povo da terra apontando para algumas características proféticas aprovadas pelo Senhor.

Compromisso – Mq 3,5

A denúncia feita por Miquéias, no verso 5, se refere a certos profetas que estavam aproveitando da autoridade obtida para seduzir com o intento de enganar o povo. Os denunciados, ao invés de serem bons condutores de todo um grupo, procurando dar condições para que homens e mulheres caminhassem bem segundo o anelo de Deus, agiam descompromissadamente. O resultado é que muitas pessoas estavam totalmente perdidas e acreditando que todo o mal vivenciado tinha o apoio de Deus. Para contentamento de alguns mercenários, grande parte da população nem ousava se levantar contra os “servos do Senhor”.

Os profetas que não tinham compromisso eram daquele tipo que fazia profecias mediante pagamento, sendo essas sempre favoráveis àqueles/as que lhes pagavam. De tal forma, o povo pobre, por necessitar subsistir, não iria gastar “dinheiro” com esses profetas. Logo, aqueles que detinham o poder aproveitavam para cometer as maiores maldades contra os camponeses.

Desta forma, no parecer de Miquéias, a atitude profética verdadeira é agir com compromisso. Isso significa entender que a vocação dada por Deus, para atuação no meio do povo, deve ser levada com seriedade de modo que o profeta procure sempre conduzir e observar se a população está sendo bem orientada. Por conseguinte, está descartada a prática da sedução para enganar, espoliar e lucrar com a fé das pessoas.

Fidelidade: Mq 3,6-7

Na leitura dos versos 6 e 7, Miquéias mostra quais serão os resultados de tanta injustiça cometida contra o povo carente de direção na vida. Entende-se essas palavras como um desqualificativo moral e religioso e, por conseguinte, não se trata de uma verdadeira previsão punitiva. De vez que os profetas eram infiéis e falsos, Deus não os guiava e dessa forma não faria diferença se o Senhor se ausentasse desses profetas. Faria diferença sim, se todo o seu projeto de opressão fosse desmascarado. Com certeza a vergonha cairia sobre os profetas e os poderosos, pois não teriam mais como acobertar a injustiça. Conseqüentemente, quando se lê que os profetas infiéis não conseguirão profetizar e cobrirão os lábios, ou a barba, significa que eles perderão a sua dignidade e respeito, pois Deus, através do profeta, desmascarará toda a mentira e eles cairão em descrédito.

Ao contrário dos profetas que são fiéis a si mesmos, fica claro no proceder de Miquéias que o profeta de Deus sempre procura ser fiel. Ser fiel é ser alguém constante, firme e leal a Javé e ao povo, bem como a função a que foi incumbido de realizar. Ser fiel é proferir a vontade de Deus a todas as pessoas tal como ela é, ao invés de beneficiar àqueles/as que pagam bem. Sendo assim, a fidelidade é existente quando a pessoa não se prostra à corrupção e nem a injustiça – coisas próprias de quem não tem Deus como único Senhor, mas idolatram o poder, a riqueza e a ganância. Cabe lembrar que a verdadeira profecia sempre aponta para a justiça, conversão, misericórdia, perdão, liberdade e paz.

Consagração: Mq 3,8

No versículo 8, Miquéias faz a seguinte afirmação a respeito de si mesmo: “Eu, contudo, estou cheio da força, (do Espírito de Deus) de direito e de coragem, para anunciar a Jacó o seu crime e a Israel o seu pecado”. Conforme vemos neste versículo, ter o Espírito de Deus é estar cheio da sua força, direito e coragem para anunciar a Jacó o seu crime e a Israel o seu pecado.

Força e coragem são termos que se completam e tornam explícita a capacitação que é necessária para enfrentar todos os tipos de hostilidade que possivelmente Miquéias receberia por trazer a verdade à tona. E de direito, que soa como aquele que procura ser dirigido pela justiça... justiça essa ausente nos magistrados e “profetas sedutores”, ambos “amantes” do crime e do pecado.

Portanto, a consagração é a dedicação ou o oferecimento da vida a Deus, como reconhecimento de que é o único Senhor, como também, uma confirmação de que fazer a vontade divina é o que importa... independente das conseqüências. Por conseguinte, a consagração é uma terceira característica importante, que leva o profeta Miquéias, cheio do Espírito de Javé, anunciar a Jacó o seu crime e a Israel o seu pecado. Como resultado da consagração a Deus, Miquéias foi fortalecido, encheu-se de coragem e de direito para desmascarar uma teologia maligna que injustiçava o povo ingenuo e crédulo.

Desafios

O chamado que Deus nos apresenta, como pessoas que atuam e/ou atuarão no meio do povo cristão, e especificamente no Brasil, é a que sejamos verdadeiros/as profetas e profetizas do Senhor. É neste texto de Miquéias que encontramos características que podemos buscar.

Se nós temos visto muita gente falando falsamente em nome de Javé, devemos fazer o contrário, pois somos homens/mulheres comprometidos/as com Deus. Se nós cremos que vale a pena servir ao Senhor e ao/à próximo/a precisamos conduzir bem os grupos cristãos com os quais trabalhamos ao invés de seduzi-los objetivando enganá-los. Deus nos encoraja a darmos condições para que homens e mulheres caminhem por sendas suaves, também como superem as dificuldades diárias com consciência e sabedoria.

Uma vez que temos comunhão com o Senhor precisamos permitir com que as pessoas procurem saber qual a boa, perfeita e agradável vontade de Deus. Se nós fazemos parte do corpo de Cristo, e sabemos o que isso significa, precisamos mais e mais agir com seriedade.

A partir do momento que nos tornamos discípulos/as de Jesus Cristo, fomos capacitados/as para profetizar. Isso significa ser constante, firme e leal a Deus, bem como à função a que fomos incumbidos/as de realizar. Outro aspecto importantíssimo é esforçar-se por proferir a vontade do Senhor a todas as pessoas tal como ela é, ao invés de beneficiar àqueles/as que pagam bem. Agindo assim, não cederemos à corrupção e nem a injustiça, pois estas são coisas próprias de quem não ama a Deus.

Completando, nós como profetas e profetizas do Senhor não podemos deixar de nos consagrar dia após dia, dedicando a vida a Deus, como reconhecimento de que Ele é o único Senhor. Aquele/a que é consagrado/a se esforça para fazer a vontade divina independente dos resultados e, conseqüentemente, será orientado/a a anunciar à Igreja e demais setores sociais o seu crime e pecado. Além disso, terá força, coragem e direito para desmascarar toda teologia falsa-perversa-maligna que favorece a injustiça.

Como profetas e profetizas de Deus no século XXI d.C, nós também podemos cultivar as características identificadas no profeta Miquéias (século VIII a.C.), a saber, Compromisso, Fidelidade e Consagração.

Graça, paz e bem!



[Texto fundamentado no seguinte artigo: ANTUNES FILHO, Edemir. Chorar e lamentar... porque a nossa omissão profética denota a nossa aquiescência no processo de exclusão: Miquéias 3,5-8. In: Mosaico Apoio Pastoral, nº 17. SBC: Editeo, abril-maio, 2000. p. 8-9.]

domingo, 12 de agosto de 2007

Meu pai, meu amigo

Num dia como esses (Dia dos Pais) eu não posso deixar de falar do meu pai: Edemir. Com o passar do tempo eu percebi que possuo algumas características semelhantes às dele: organização, busca por aprender, “caxianismo” (advindo do termo “caxias”), observação, “rabugice bem humorada”, equilíbrio etc. Algo que eu não posso deixar de mencionar é a fé. O modo como ele experienciou a Deus-Pai, a Jesus Cristo e o Espírito Santo marcou o meu jeito de viver a caminhada cristã. Embora eu tenha crescido e amadurecido, os ensinamentos e testemunhos que dele recebi a respeito de Deus me são valiosíssimos. Lembro-me que ele sabia lidar muito bem com os diferentes grupos cristãos, na época “tradicionais” e “avivados/as”. Com muita sensibilidade ele pastoreou homens/mulheres diferentes e divergentes. Tudo isso contribui para que eu estivesse aberto a aprender com todas as pessoas – independentemente do modo como elas se expressam no contato com o Senhor. Na atualidade, eu procuro pastorear o povo de Deus com o máximo de amor, carinho, respeito e cuidado. As pessoas que o Senhor colocou em meu caminho devem ser apascentadas com afabilidade e ternura – logo, eu me esforço para agir assim. Trago em minha memória o bíblico e paterno conselho pastoral: “Não repreendas ao homem idoso; antes, exorta-o como a pai; aos moços, como a irmãos; às mulheres idosas, como a mães; às moças, como irmãs, com toda a pureza”. [I Tm 5,1-2]

Eu participei de eventos e encontros diversos, também como me aventurei por vários setores do “mundo cristão”. Sempre fui incentivado pelo meu pai e minha mãe e, às vezes, escutava algumas verdades concernentes a determinadas práticas que eu estava adotando. Experimentei, devido a uma intensidade desgovernada que habitava em meu peito, os entusiasmos dos movimentos tradicionais, progressistas, liberais, ecumênicos e avivalistas. Em decorrência dessas experiências acabei aprendendo um pouco de cada e notando que todas as alas possuem características positivas e negativas. Hoje em dia eu procuro o máximo de equilíbrio possível. Não sou mais favorável aos rótulos, pois eles apresentam uma mescla de perigos e fardos que eu não preciso viver nem carregar – o Evangelho me libertou e confere libertação cotidiana. Essa postura tem me ajudado a ser mais piedoso com o/a próximo e comigo mesmo. É óbvio que o exemplo de meu pai ajudou-me muito em minha vida como discípulo de Jesus Cristo. Por isso, eu tenho que agradecer ao Pai Celestial por me conceder o privilégio de conviver com o meu pai.

Pelo amor, compreensão e apoio que recebi e recebo do meu pai eu sou imensamente grato pelo “Seu Demí” (muita gente o chama assim... e a mim também).

Que Deus abençoe o meu e o seu pai.

Graça, paz e bem!

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Quadrinhos "divinos"

Quadrinho do Glauco: Zé do Apocalipse

Quadrinho do Laerte: Deus
Apesar de alguns exageros, muitos quadrinhos do Laerte e do Glauco são divertidos e inteligentes. Vale a pena conferir!


sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Reformar o coração

De tempos em tempos uma “pérola” é lançada neste “meio igrejeiro cristão” causando raivas mil. Santas são quebradas, Papas discursam aqui, Pastores/as respondem lá, orelhas ardem com xingamentos, debates inócuos são retomados, o Evangelho é esquecido e muitas pessoas acabam falhando por esquecer-se de que Reformar católica-pentecostal-e-protestantemente a vida é essencial.

Ao estudar um pouco da História do Cristianismo notar-se-á que foram cometidos diversos atos violentos por parte de “cristãos/ãs”. Esta constatação indica que o pecado não é uma particularidade de determinado grupo religioso. Reconhecer esta realidade é o primeiro passo para que o/a fiel se torne menos desumano, inquisidor/a e semelhante a alguns fariseus que prejudicaram toda a classe farisaica em decorrência da arrogância e hipocrisia testemunhal.

Eu li o seguinte no Evangelho segundo Marcos: “Achando-se Jesus à mesa na casa de Levi, estavam juntamente com ele e com seus discípulos muitos publicanos e pecadores; porque estes eram em grande número e também o seguiam. Os escribas e fariseus, vendo-o comer em companhia dos pecadores e publicanos, perguntavam aos discípulos dele: Por que come e bebe ele com os publicanos e pecadores? Tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos e sim pecadores”. (Mc 2,15-17)

Em seqüência, lembrei-me das palavras de Mario Quintana: “Cuidado! Muito cuidado... Mesmo no bom caminho urge medida e jeito. Pois ninguém se parece tanto a um celerado como um santo perfeito”.

Urge buscar sabedoria do Alto e não se deixar levar pela imprudência de fariseus e celerados. Por conseguinte, talvez seja mais adequado aos/às protestantes abalizarem erros de protestantes, para depois discorrerem sobre os equívocos praticados por católicos/as e ortodoxos/as. Pontuar a iniqüidade cometida ajuda no processo de santificação, todavia o problema está justamente na utilização dos fatos para desqualificar grupos, isto é, agredindo-os (argumentos ad hominem e ad populum – escrevi difícil). Nós aprendemos com Jesus que esta atitude não testemunha o Evangelho, antes fomenta o ódio e as guerras frias-quentes-mornas. Amor e respeito ainda são válidos no tratamento de pecadores/as.

Na Academia é comum o uso da expressão crítica. Esta não significa falar mal, mas se esforçar para ter uma visão mais profunda do caso analisado. No meio acadêmico nem todas as pessoas aplicam em suas vidas um modo de ser como fora citado, no entanto esta postura deve fazer parte do viver de todo/a aquele/a que se afirma discípulo/a de Jesus Cristo. Antes de emitir declarações aguerridas e impensadas, é salutar que se tenha uma concepção mais densa possível da realidade. É certo que ao agir deste modo o erro ainda pode acontecer... agora imagine a pessoa que descarta a realização de uma análise mais apurada. (Ah! Quantas vezes eu já “paguei” pela minha “língua solta, imprudente e cretina”. Deus é minha testemunha!)

Eu aprendi que existem seguidores/as de Cristo em todas as igrejas “cristãs”. Ser neopentecostal, pentecostal, protestante, ortodoxo/a, católico/a não significa necessariamente que a pessoa é cristã. Por outro lado, nestas mesmas igrejas convivem as mais variadas pessoas (clérigas e leigas) com intenções diametralmente contrárias ao Evangelho. Portanto, a nossa tarefa principal é continuar olhando para o Alvo, tomando muito cuidado para não cair e vivendo na dependência do Espírito Santo. Distorções, sujeiras, preconceitos e agressividades estão presentes em todas as burro-cráticas instituições “cristãs”. Cabe a cada um/a o esforço por ser Cristão/ã (sem aspas), em outros termos, buscando uma constante reforma do coração na perspectiva integral do Evangelho (Igreja reformada, sempre reformando).

Lembremo-nos que Jesus Cristo sempre aponta amorosamente para o pecado convocando os/as seus/suas discípulos/as a uma Reforma ininterrupta.

Pare, pense, coce a cabeça e faça diferente.

Graça, paz e bem!

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

A bênção

Lá em Goiânia é muito comum os/as netos/as, filhos/as e sobrinhos/as da nossa família (do lado da minha esposa) pedirem a bênção para os/as avôs/avós, pais/mães, tios/as etc. A primeira vez que presenciei este ato eu fiquei deveras comovido. Bênção é um presente, em outras palavras, é um ato-gratuito-e-gracioso-da-Graça-de-Deus.

Declarar a bênção sobre a vida de uma pessoa significa, dentre várias ocorrências, anelar e promover o bem do Evangelho àquele/a que se ama, bem como atestar que o Senhor a acompanhará sempre. A repercussão da bênção na vida implica em guarida, proteção, iluminação, misericórdia, consolação e paz que vem do Alto.

Felizes aqueles/as que são abençoados/as. Privilegiados/as são estes/as que podem proferir a bênção, pois têm ciência de que a fonte do bem provém do Sumo Bem. Portanto, é oportuno orar para que todos/as os/as homens/mulheres conheçam-e-sintam-para-melhor-desfrutarem do bendito presente celestial.

Eu lamento por alguns indivíduos que, por desconhecerem a Graça, maldizem seres humanos com a prática de violências, de politicagens, de desrespeitos, de vadiagens, de explorações sexuais, de incitação ao consumo de drogas lícitas e ilícitas, dentre outras ações banais.

Espero poder apregoar a bênção a todos/as com os/as quais eu conviver. Vale ressaltar que os/as meus/minhas sobrinhos/as e filhos/as na fé (membros da Igreja a qual eu pastoreio) tem sido beneficiados/as por este presente. É fato que eu sou o maior beneficiado de tudo isso.

Faz-me muito bem proclamar o bem. De graça recebi... de graça ofereço.

Que Deus o/a abençoe.

Graça, paz e bem!

sexta-feira, 27 de julho de 2007

O discurso do macaco

De quando em vez eu citarei alguns textos de outras pessoas. Assim, eu compartilho com você uma breve reflexão de Pompilho Diniz, intitulada O discurso do macaco:
__________
Só nos trouxe desvantage essa ta de descendênça. Pois pru mode essas bobage, houve tanta desavença, que de argum tempo pra cá bicho nenhum quer mais dá a macaco muita crença...

No entanto vocês se engana. Pió mentira não há. Coquero não dá banana (cada coisa em seu lugá). Nem bananera dá coco. Nóis, os macaco tampouco vai outro bicho gerá.

E nenhum de nóis aceita na famia essa braiada. Nossas macaca é direita, muito honesta e respeitada. É por isso que eu duvido que os homi tenha nascido no meio da macacada.

Se os homi tivesse em fim descendência de macaco, num havia gente ruim e nem sujeito veiaco. Vivia sem ter trabaio, drumindo no memo gaio, comendo no memo caco.

Repare se argum macaco bebe cachaça pru viço. Se cheira tabaco... Ou desejando sumiço, ele memo se matasse. Mas os homi quando nasce já tem tendença pra isso.

Veja bem se argum de nois, somente por ambição, guardando rancor feroz mata seu própio irmão. Que ele seja forte ou fraco, macaco contra macaco nunca fez revolução.

Animá nenhum da terra tem esse instinto do homi de vivê fazendo guerra, matando os outro de fomi. Entre nóis há união. Sem haver exproração quando um comi os outro comi.

Se um macaco tá doente, cura seu má com resina. Mas os homi é deferente. Faz primeiro uma chacina em tudo quanto é macaco e dele faz vacina.

Também as nossa macaca num dexa os fio cum fomi, nem arruma a sua maca e pelo mundo se somi atrás de outro chimpanzé. Cumo faz essas muié fugindo com os outro homi.

As nossas macaca véve cuidando só da famia. Nenhuma delas se atreve ir de noite pras folia deixando em casa seus fio bandonado, com frio pra vortá no outro dia.

Porém, nada disso importa. E pra falá francamente, nóis enfim só não suporta a mentira dessa gente que pra manchá nosso nome, quer pru força que esses homi seja nossos descendente.
__________
Graça, paz e bem!

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Entre a competência e a desinteligência

Introdução
Na maioria das empresas, escolas e instituições de modo geral, uma das exigências perpetradas aos/às trabalhadores/as é que os/as mesmos/as sejam profissionais, por conseguinte tenham a devida capacitação para realizarem as atividades a serem desempenhadas e busquem um constante aprimoramento. Esta constatação é um reflexo da sociedade contemporânea, ou seja, ela está mais competitiva e extremamente especializada. Tal postura se dá em decorrência da busca por alcançar novos mercados e, principalmente, adquirir capital. Em outros termos, nesta lógica, quanto maior a habilitação e eficácia na prestação de serviços, melhores serão os resultados e os lucros.

Na recente configuração social não há espaço para quem não se adapta, tampouco se qualifica. O discurso da competência vigora até mesmo em certos setores mais paternalistas da sociedade, como exemplo, algumas instituições empresariais, religiosas e acadêmicas. Deste modo, especializar-se, além de ser uma exigência dos/as investidores/as das mais diversas áreas, é uma questão de sobrevivência para os/as homens/mulheres inseridos/as nesta realidade.
Ao discorrer sobre competência tem-se em vista um labor bem feito e que seja um diferencial em meio ao excesso de serviços e ofertas existentes. Assim, tal empreendimento obtém o êxito almejado, pois vem acompanhado de ações precisas que culminam em custos menores, resultados maiores, problemas bem resolvidos e oportunidades aproveitadas.

Um legado paulino
Algumas semelhanças com este contexto hodierno podem ser observadas na concepção paulina de igreja. Sua proposta é de um modo de ser e agir como um organismo vivo, a saber, cada membro realizando uma função específica. E o objetivo final não se trata de aumento das riquezas, mas sim compartilhar o Reino de Deus e seus valores com a humanidade.

Outro dado interessante desta concepção eclesial se refere à maneira como se dá a divisão do trabalho nesta confraria. Cada pessoa recebe de Deus pelo menos um dom para poder servir de maneira clara à Cristo, à Igreja e aos seres humanos. Portanto, cabe ao grupo de fiéis direcionar cada um dos membros para o exercício específico das atividades, segundo o carisma dado.

Na perspectiva de Paulo, as atividades realizadas pela Igreja se concretizam porque está presente o amor interpessoal como fruto da atuação do Senhor na comunidade. Por tudo isto, a unidade e o companheirismo são buscados com veemência no intento de que exista um ambiente interno propício e saudável para as conseqüentes ações missionárias.

Segundo o apóstolo, neste grupo cristão evita-se os conformismos porque o objetivo maior deve ser alcançado na perspectiva dinâmica do Espírito Santo. Trata-se, conseqüentemente, de uma coligação proativa e decidida a cooperar com a Missão de Deus. Ela se auto-avalia constantemente a fim de eliminar os atos inadequados e buscar criativamente novos caminhos.

Esta igreja reconhece o anúncio de Jesus Cristo, por isso serve a todos/as com seus dons e talentos de maneira dedicada e competente. Sendo assim, suas atividades não se processam de maneira cristalizada, egoísta, arrogante e prepotente. Em outros termos, o seu proceder é provisório, flexível e aberto em prol da comunidade de fé e de toda a criação.

Uma realidade interna
Não obstante às dificuldades concernentes ao ambiente fora da igreja, muitos obstáculos internos, para uma práxis eclesiológica saudável, podem ser apontados, dentre os quais destacam-se o despotismo, o nepotismo, o fanatismo e o egoísmo.

O despotismo muitas vezes é aplicado no interior das igrejas desrespeitando, segundo Paulo, o dom concedido por Deus à determinadas pessoas, bem como recusando os talentos individuais. Mas, nesta abordagem eclesiológica paulina, os serviços devem ser exercidos sem interesses particulares. Em suma, não há espaço para as ações autoritárias.

Outro agravante se dá com o nepotismo, isto é, privilegiam-se parentes e amigos/as despreparados/as ao distribuir as funções em detrimento daqueles/as que são realmente capacitados/as para o exercício das ações eclesiais. Conforme o legado bíblico em referência, este feito prejudica toda a confraria e, conseqüentemente, insulta Àquele que concedeu os carismas.

Por outro lado, há que se destacar o fanatismo. Este pode ser observado nas coligações das mais diversas linhas teológicas. Em nome de uma verdade um grupo exclui, difama e persegue outros. Nega-se portanto o princípio paulino de diversidade. Logo, Cristo não consegue mobilizar tão eficazmente certas pessoas para irmanarem-se, pois a intransigência ofusca a sapiência.

À semelhança dos empecilhos supraditos, o egoísmo também é diametralmente oposto ao modo de ser da igreja, porque se prioriza o “eu” colocando em risco toda a missão. Exempli gratia, esta atitude pode ser observada no exercício do poder político-eclesiástico, na gestão dos bens e dinheiro dos grupamentos cristãos etc.

Motivações para a desinteligência
O modo como Paulo concebe a igreja traz importantes contribuições para as comunidades cristãs atuais. De igual modo, a breve análise concernente à configuração social apresenta muitos desafios para as confrarias modernas que aceitaram o discipulado proposto por Jesus Cristo e que por este procuram viver.

Antes de prosseguir cabe fazer uma explanação conceitual oportuna, pois a idéia que muitos/as têm do termo desinteligência é que este se refere à ausência de inteligência ou à estupidez. Todavia, o sentido que se emprega aqui é o de desarmonia e desacordo. Feitas estas considerações cabe entender como esta palavra se averigua na práxis cotidiana das igrejas.

Acima foi mencionado que o discurso da competência vigora na sociedade. Destacou-se também que há um modelo bíblico para as congregações se organizarem, a saber, como um corpo vivo. É, portanto, sobre estas comprovações que se nota o desacordo, porquanto muitas coligações cristãs “negam” que o mundo mudou e que a eclesiologia paulina seja válida.

Esta discordância raramente se percebe nos discursos orais, pois nestas verbalizações “oficiais” evita-se ao máximo transparecer o que ocorre cotidianamente. Os discursos não-verbais, via de regra, são mais eloqüentes e ricos de significado se comparados aos primeiros. Vale ressaltar que ainda existem os discursos em “off” que contribuem com a desinteligência supradita.

Um exemplo oportuno que clarifica estas últimas considerações pode ser notada na divisão do trabalho eclesiástico, no qual se incluem membros clérigos e leigos. Do ponto de vista paulino as atividades devem ser realizadas na igreja em total acordo com o dom concedido pelo Espírito, mas o que ocorre às vezes é o descaso com isto por não ser individualmente vantajoso.

Conclusão
Muito mais do que uma adequação à lógica neoliberal capitalista, discorrer sobre a competência na vida eclesial é uma necessidade urgente, pois, numa linguagem religiosa, os dons e os talentos pessoais e coletivos devem prevalecer na igreja e ser aprimorados cotidianamente para que se possa servir toda a criação da maneira mais adequada possível.

A igreja costuma declarar que é o Espírito quem distribui os carismas e fomenta o povo a agir em prol dos/as semelhantes. Se isso ainda é válido, resta perguntar: Por que vigoram em diversas comunidades cristãs o despotismo, o nepotismo, o fanatismo e o egoísmo? Será que essas não são algumas das razões que impedem o crescimento integral da igreja?

Talvez uma volta àquilo que se configura biblicamente como Evangelho (Boa-nova) ajude na transformação deste contexto eclesial tão complexo. No Antigo e Novo Testamentos são encontradas boas e péssimas notícias, cabe, portanto, reter aquilo que é bom e, se possível, escolhê-lo como fundamentação de toda a práxis.

Se houver uma reflexão séria a cerca das ações e reflexões de Jesus Cristo na realidade em que ele se insere provavelmente encontrar-se-á algumas pistas para o viver eclesial. Entretanto, não há como descartar que é imprescindível somar à reflexão a experiência deste Cristo a fim de que as práticas sejam o mais coerente e consistente possível por parte dos/as atuais discípulos/as de Jesus.

Não se pretende aqui apresentar nenhuma lista formatada de ações. Como sugestão, os/as homens/mulheres comprometidos/as com o Reino de Deus poderiam orar, pensar profundamente sobre carreira eclesiástica, reflexão bíblico-teológica-pastoral, atos litúrgicos e cotidianos, e, muito mais do que desejar mudanças, escolher mudar e agir.

Inquisidores/as “pós-modernos/as”, mal intencionados/as e descomprometidos/as à parte... quiçá seja este o momento propício para observar o que está acontecendo, avaliar o que há de positivo e negativo nesta realidade, e atuar com o firme intento de reformar, ou mesmo, reinventar a igreja.

“Mas a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada”. [Cecília Meireles]

Graça, paz e bem!

[Obs.: A reflexão acima é a síntese de um artigo que eu escrevi há um tempo. Eu espero que esta leitura tenha lhe causado algum incômodo.]

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Jesus e o frio do Céu

No dia 16 de julho eu fui à Goiânia de avião e tive uma calorosa discussão teológica com a minha sobrinha Ana Julia de 6 anos. Partimos de São Paulo (Congonhas) e, para os padrões goianos, o dia estava frio. Em meio ao falatório (especialmente dela!) ela se esqueceu da temperatura baixa e nem percebeu que esta se acirrou no interior da aeronave. Quando o avião já estava estabilizado nós recebemos a refeição, nos alimentamos e... o frio a incomodou muito. Ela se virou para mim e perguntou: “Tio, como Jesus agüenta esse frio?”. E eu a indaguei com um jeito intelectual: “Como assim?” Ana Julia reformulou a questão: “Como Jesus agüenta este frio aqui do Céu?”. E prosseguiu: “Jesus é transparente, Ele mora aqui no Céu e eu não sei como Ele faz para agüentar este frio”. Então eu respondi convicto: “Não sei, mas eu tenho a impressão que Ele não fica só aqui no Céu”. Em seqüência, ela colocou as duas mãos no peito e disse: “Jesus também mora no calor do meu Coração”. Ria! Pode rir. Agora pense no que ela afirmou. Permita-me continuar... O coração é a sede dos pensamentos, das emoções, dos anseios, das elucubrações, dos desejos e das ações. Portanto, se Jesus Cristo está no “calor do coração” o “frio” é repelido. Não importa se o “frio” é produzido pelo vazio existencial, pelo desequilíbrio emocional, pelo narcisismo idolátrico, pelo embrutecimento das relações interpessoais, pelo desespero, pelo mau testemunho dos/as clericais especialistas em cristianismo que ainda não se tornaram discípulos/as de Cristo, dentre outras coisas... Todo “frio” é lançado fora. Ao deixar-se aquecer pela vida de Jesus, todo o seu ser passa a ser redimensionado. Os “frios” cessam. São interrompidos, até mesmo, os "frios" decorrentes das ações desrespeitosas que vitimaram, no dia 17 de julho, passageiros/as e funcionários/as da Empresa Aérea TAM (Airbus A320, vôo JJ 3054). Não se trata de um calar diante deste “frio” (cala-frio), mas acender a esperança no coração para prosseguir com fé e resistência. Possivelmente seja por isso que existe uma sábia e boa notícia-orientação na Bíblia: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida”. [Provérbios 4,23]

Deus abençoe a minha querida Ana Julia.

Graça, paz e bem!

quinta-feira, 12 de julho de 2007

A propósito de Bento

Afirmou Bento XVI: “A única igreja de Cristo é a Católica”. Outrora anunciou: “Fora do Catolicismo não há salvação”.

Por que esbravejar ou escandalizar-se diante das supramencionadas asserções de Bento XVI? O que o Papa proferiu é algo deveras notório. Ao visitar a história da Igreja você encontra esta postura. Certos/as “cristãos/ãs” das mais variadas vertentes valeram-se deste expediente. Trata-se de uma estratégia institucional. Toda instituição religiosa hegemônica, ou em vias de perder tal hegemonia, precisa reafirmar a sua autoridade e as suas origens de tempos em tempos – exempli gratia, revise as obras: “Microfísica do poder” de Michel Foucault e a “Economia das trocas simbólicas” de Pierre Bourdieu. Na contemporaneidade, se o protestantismo estivesse na mesma posição do Catolicismo no Ocidente é provável que as assertivas ofensivas-defensivas também seriam utilizadas. Diante desta grande novidade, a nossa tarefa é nos unir com os/as discípulos/as de Jesus Cristo e não com os/as adoradores/as do próprio umbigo que ficam extasiados/as com o simples sussurrar do nome de suas “empresas sagradas”.

Declarou Jesus Cristo: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim”. [João 14,6] E asseverou mais: “Se alguém me ama, guardará minha palavra e o meu Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos morada. Quem não me ama não guarda minhas palavras; e a palavra que ouvis não é minha, mas do Pai que me enviou”. [João 14,23-24]

Destarte, tem-se como ilação o seguinte: Padres/Mamas, apóstolos/apostilas, pastores/as, missionários/as não podem salvar ninguém. O mesmo se aplica às igrejas autocentradas e arrogantes que se esqueceram do Cristo – fato que se comprova na observação das teias e poeiras como invólucro do Santo Livro.

Enfim, a única igreja de Jesus Cristo é aquela composta por seus/suas discípulos/as. Estes/as últimos/as são os/as portadores/as da salvação que, dentre muitas atribuições, trazem consigo a força das palavras que transformam o mundo.

Graça, paz e bem!

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Anel de Tucum

Eis o resultado de uma das atividades manuais dos índios brasileiros: o anel de tucum. Este era confeccionado para ser vendido, e os lucros obtidos proporcionavam uma melhor qualidade de vida à população indígena e, conseqüentemente, à preservação de sua cultura.

Inicialmente as pessoas que compravam e usavam deste anel eram aquelas que se sensibilizavam com a causa indígena, ou seja, deste povo “brasileiro inicial” que ansiava e reclamava por terra, espaço, valorização e reconhecimento como seres humanos. Posteriormente, grupos envolvidos com a aspiração e estabelecimento imediato dos Direitos Humanos juntaram-se às vozes de centenas de índios/as em nome da vida, da paz, da justiça e do amor.

Noutro momento grupos especificamente citadinos, que visualizavam as disparidades sociais, aumentaram o número de homens e mulheres que estariam dispostos/as a resistir à desumanidade cometida contra os grupos indígenas do Brasil em nome da preservação da vida humana, bem como, de todos os seres vivos. Juntamente com este grupo uniram-se cristãos e cristãs que se sentiram compelidos/as a participar e partilhar desta causa, pois afirmavam ser discípulos/as de Jesus Cristo, a saber, um homem cujo ensino mais contundente era que o amor à vida era um reflexo daquele/a que amava a Deus sobre todas as coisas. Assim, já não era apenas a causa indígena que motivava, mas também, a exclusão racial, a opressão sofrida pela mulher, a exploração da criança, a injustiça social, a pobreza, os abusos cometidos contra a natureza, o capitalismo selvagem e toda a sorte de ocorrências caracterizadas como resultante da anomia social. Uma das afirmações do povo cristão era que todas estas maldades realizadas ofendiam a Deus profundamente e, desta forma, a maneira pela qual este utilizou para testemunhar à sociedade sobre Jesus, resistir e denunciar profeticamente o mal cometido era usando este anel.

Assim, em torno deste singelo anel de madeira nascia o símbolo daqueles/as que eram a favor da vida, da paz, do amor, da justiça e da valorização de todo o planeta. No meio cristão, especialmente para os grupos taxados de evangelicais e progressistas, este adereço passa a ser uma insígnia de uma vida de simplicidade, compaixão, solidariedade e misericórdia pautada pelos preceitos bíblicos. Vários/as discípulos/as de Cristo ao usarem este anel na contemporaneidade procuraram demonstrar que são a favor do amor a Deus, ao/à próximo/a e à toda a Criação de Deus, bem como da igualdade entre as pessoas. Por outro lado, se mostram diametralmente contrários/as às injustiças, o enriquecimento desregrado, a miséria, à destruição da natureza, os abusos cometidos, as exclusões, os preconceitos e as explorações no campo religioso.

Embora eu não use o tal anel, admito que toda a carga simbólica a ele relacionado é digna de nota. No entanto, ainda prefiro o meu coração marcado pelo Príncipe da Paz a tornar-me joguete nas mãos de sepulcros caiados que, por não terem sido transformados/as pelo Evangelho Vivo, adoram guerras e rumores de guerras – “manicuros/as de plantão” ávidos/as por associar o/a outro/a ao seu grupo ou para rotular, matar e destruir os/as diferentes... agindo como pequenos/as diabinhos/as. Pare e pense.

Graça, paz e bem!

quinta-feira, 28 de junho de 2007

A Igreja maltratada

Às vezes a Igreja de Cristo é maltratada. Não é de hoje que uma instituição eclesiástica (que de quando em vez não tem cara de Igreja) precisa se ater a questões burocráticas, administrativas e legais. Em meio a tudo isto existem as infantis disputas pelo adulto poder adúltero (tão amplamente discutidas por Karl Marx, Max Weber e Pierre Bourdieu – só para exemplificar) que, embora legítimas, enojam aqueles/as que amam o Evangelho. Perdem-se nas burro-cracias, enfartam-se pelo poder-sem-amor-nem-pudor, extasiam-se quando dobram as nossas dobres leis dobradas e vangloriam-se pelo apaixonante vernáculo tecnicista de cunho juridiquês, administrês, teologiquês, economês indiscutivelmente mais apaixonado por si do que pelas simples Palavras Sagradas que libertam, curam, restauram e salvam. Não há cordis que consiga expressar tamanha ignomínia.

A oração poderia ser uma solução para tais bestialidades. (Desculpe-me, mas eu gosto de me iludir com a simplicidade-complexa das Boas Novas.) Se a Igreja precisa se adequar às exigências institucionais hodiernas está na hora dela fazer a parte que lhe cabe neste latifúndio conforme aprendeu quando ainda caminhava face-a-face com Jesus Cristo. Antes de decidir algo a confraria cristã age, ora, medita, discerne, age, ora... Para tanto, não dá para fazer as coisas com tanta-velocidade-e-superficialidade. Por outro lado, eu não estou falando daquela oração de descarrego que se faz tão mecanicamente antes das refeições para que gulosos corpos esfomeados se empanturrem o mais breve possível. Trata-se do ora et labora (ora e trabalha) como um estilo de vida. Orar para não cair-em-tentação. Orar para deixar de ser pior que uma besta e parceiro/a da Besta. Orar para discernir. Orar para agir. Orar para adorar e louvar. Orar para amar. Orar para viver. Orar para permanecer orando.

Ao orarmos nos achegamos a Deus e experimentamos um pouquinho do Céu. Sob a oração, usamos do poder para servir ao Senhor e ao/à próximo/a. Movidos/as pela oração nos valemos das muitas Ciências para bemtratar a Igreja. Passamos a ser portadores/as de uma Graça que transforma a tendência infernal de embrenharmo-nos no cinismo e atuarmos egoisticamente. Deixamos rastros de Céu por onde passamos. Rastejamos mesmo. Rastejamos a fim de que não nos esqueçamos da terra carente de vida e do Senhor de toda a Vida que, dentre várias outras coisas, do pó da terra fez gente como a gente. Que o Espírito Santo sopre nas empoeiradas Palavras de Vida e estas, por sua vez, nos ajude a viver em oração. Podemos começar como as crianças: Papai do Céu, muito obrigado...

Graça, paz e bem!

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Testemunho e desabafo

Eu sou um homem que busca ser discípulo de Jesus Cristo. Os supostos rótulos "cristãos" (tradicional, pentecostal, carismático, progressista) não me servem, pois excluem, “marcam a ferro”, ferem, enganam e dividem. Tenho um pouco de cada, sem exageros e extremismos. Por isso basta-me tentar ser discípulo e assim ser chamado. Por outro lado, eu tenho a leve impressão de que as nomenclaturas “Católica, Ortodoxa e Evangélica” associadas à Igreja de Cristo não fazem muito sentido. Possivelmente a questão mais importante esteja em torno de quem é ou não seguidor/a Daquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida.

Confesso a você o seguinte: eu estou saturado dos combates violentos que se realizam entre grupos "cristãos" (ou será facções?) com tendências extremistas-egoístas-exclusivistas. Na maioria das vezes, os resultados destas pelejas são: mágoas, friezas, descrenças, traumas, cegueiras, ressentimentos, entre outras coisas negativas. Na minha perspectiva, a Comunidade de Discípulos/as deve se esforçar por viver a fé, a oração, a meditação, o jejum, o aprendizado, o cuidado, a evangelização, o testemunho, a partilha, o ensino e o respeito mútuos - em nome de Jesus Cristo e na força do Espírito Santo.

Apesar de tudo... Deus continuará a nos olhar com misericórdia e amar profundamente a cada um/a de nós.

Graça, paz e bem!

terça-feira, 12 de junho de 2007

Tempo de namorar

Hoje é dia dos casais de namorados (casados ou não)
Deixo um conselho a todos/as...

Homens: não presenteiem as mulheres com panela, ferro de passar ou coisas do gênero.
Mulheres: não presenteiem os homens com lenço de pano, chaveiro etc.

Comecem a exercitar o romantismo hoje. Lembrem-se: um presente marcante não é sinônimo de gasto exorbitante. Façam uso da criatividade e do bom gosto.

Aproveitem bem este dia. Carpe diem! Espero não ter que tratar no gabinete pastoral ou no divã virtual de nenhum problema concernente à não observação do conselho dado acima.

Que Deus abençoe a todos os casais.

Graça, paz e bem!

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Por falar em greve...

Aproveitando esta “onda de greve” – Parte 1

Por que o povo cristão não encabeça uma greve nacional pelo fim do descaso com a saúde pública e o abuso na saúde privada? Da educação tão descuidada e mal amada? Da corrupção e descomedimento realizados tão descaradamente no setor político? Do aumento dos salários dos/as políticos/as brasileiros/as? Da destruição desenfreada da natureza? Da fome? Do desrespeito aos/às idosos/as? Da prostituição infantil e juvenil? Da disparidade social? Da crescente marginalidade? Do desprezo às pequenas empresas e favorecimento de grandes empresas? Do desamor para com a maioria dos/as trabalhadores/as deste país? Da má distribuição de renda? Do crescimento da pobreza? Do direito vendido? Do dever esquecido? Da banalização da vida?

Obs.: Permitam-me uma pausa, pois a lista é enorme.

Aproveitando esta “onda de greve” – Parte 2

Por que o povo cristão não encabeça uma greve eclesial pelo fim de um descompromisso com o Evangelho do Reino? De uma liderança clériga e leiga mercenária? De um exercício do poder sem amor? De um desequilíbrio entre experiência, tradição, reflexão e testemunho? Dos excludentes rótulos “cristãos” (tradicional, pentecostal, carismático, progressista)? Das enganadoras-reducionistas-exageradas linhas teológicas (ortodoxa, neo-ortodoxa, liberal, neoliberal)? Das barganhas com Deus? De um vínculo nefasto entre a fé e o neocapitalismo selvagem? De um majoritário silêncio profético? De um superficial avivamento? Da graça transformada em des-graça? De tendências aos tradicionalismos, avivalismos, progressismos, institucionalismos, conservadorismos, partidarismos, legalismos, cerimonialismos, emocionalismos, superficialismos, espiritualismos, narcisismos, intelectualismos, plasticismos, crentismos, cretinismos, esquisitismos, entre outros ismos?

Obs.: Tais indagações têm me incomodado nos últimos tempos... Tendo em vista os questionamentos supramencionados, uns amigos meus “pentecostais” (e, às vezes, “hexacostais”) diriam algo parecido com isto: “Fala Deus!”. Enfim, essas perguntas são fruto de um confronto que faço de mim mesmo e da realidade social contemporânea com os ensinos de Jesus Cristo.

Graça, paz e bem!

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Refletindo sobre ateus-crentes-ciências-religiões-Bíblia-experiência-Jesus-Cristo-mentiras-verdades.

Muito mais do que assumir que existem linguagens e cosmovisões variadas por parte de ateus e crentes, é necessário compreender com profundidade quais são os lugares das ciências e das religiões e o que elas entendem por verdades. Quando isso se dá as acusações mútuas, os conflitos, as agressividades e as incompreensões de ambas as partes são amenizadas e podem cessar. Cada qual passa a respeitar o limite de cada um dos setores sociais e os indivíduos que os compõe, bem como são desafiados/as a aprenderem respeitosamente sobre as abordagens, os conceitos e as experiências do/a outro/a. Em havendo este convívio cordial entre as ciências e religiões é possível que ocorra uma interação salutar que redunde em contribuições e aprendizados recíprocos.

Cada qual possui os seus erros, os seus acertos, as suas mentiras, as suas verdades, os seus exageros, os seus reducionismos, os seus valores e as suas limitações. Como exemplo, isso se constata com a atual crise das ciências e das instituições religiosas. Hoje em dia é muito inadequado que grupos e indivíduos declarem: somos detentores do conhecimento pleno, a nossa verdade é a melhor ou a mais abarcadora. Tais assertivas arrogantes podem se dar, todavia não se sustentam.

Não há como desconsiderar que a superioridade de um setor sobre outro se dá, dentre várias maneiras, pela forma como ela lida com os poderes sócio-político-econômicos. Por exemplo, se eu sou religioso ou cientista e tenho acesso mais ou menos livre às formas e meios de poder, uma das estratégias que eu posso realizar é alcançar grupos de plausibilidade, investir em propagandas em meu favor, silenciar aqueles/as que de mim discordam, “esconder” as falhas do meu sistema, promover literaturas "oficiais" que atestem a minha verdade como absoluta, concreta e inquestionável. Cabe-nos reconhecer que todas as áreas do saber são frágeis, construídas, provisórias e possuem elementos objetivos e subjetivos. Possivelmente, por trás dos jogos das ciências e das religiões estão batalhando crenças diversas que querem se impor como inquestionáveis pelo fato de não conseguirem lidar com o fato de serem débeis diante da fugacidade de suas próprias conclusões e percepções.

Em meio a essa realidade simples-complexa, é preciso declarar que não somos os/as “sabe-tudo", mas sim nos apresentarmos como pessoas que pensam, questionam, têm dúvidas, têm crises, acreditam, desacreditam, deixam pensar sem medo e que têm maturidade suficiente para dizer que existe um "monte" de coisas que não sabemos. Para complicar um pouco... as relações humanas e as conseqüentes estruturações sociais se configuram em meio às mentiras, ideologias, paranóias, contradições, euforias, boas intenções, alegrias, entusiasmos e verdades. Entretanto, ninguém que vive e acredita apenas na forjada concretude social vai parar de viver pelo simples fato de conhecer a precariedade da vida. Assim sendo, as religiões, a Bíblia e os/as discípulos/as do Cristo ressurreto não escapam destas confusões todas.

Sob o prisma da fé em Jesus Cristo como Senhor, Salvador e Espírito que caminha conosco, o grande desafio é encontrar Deus em meio às mentiras, aos absurdos e às contradições. Trata-se de uma postura-ação subjetiva-objetiva individual-comunitária que ousa confiar e andar com Deus em meio a este turbilhão de con-fusões, dilemas, inconseqüências, mentiras, avarezas, falibilidades, atrações, desconhecimentos, contradições, isto é, o contexto social. Por conseguinte, para entender Deus nesta “encrenca” toda é necessário uma experiência individual e comunitária com Ele que nos capacitará a enxergá-lo em meio à complexidade do texto bíblico, da vida e de nós mesmos.

Por fim... quando notamos que a vida se desenvolve em meio às tensões humanas, as escolhas por viver o teísmo ou ateísmo se dão de uma maneira mais pacífica, amorosa, tranqüila e leve. Sem cair na tentação de “demonizar” o/a próximo/a. Sem ficar paranóico/a pelo fato do/a outro/a não entender o que estamos tentando transmitir.

Experiência... eis a grande diferença nas Ciências, nos/as ateus/atéias e na vida dos/as discípulos/as de Jesus Cristo. Experimente os experimentos e seja um/a experimentado/a experiente. Experimente Cristo como o Caminho, a Verdade e a Vida... depois você me conta.

Graça, paz e bem!