...Os tesouros do Evangelho são redes com que, desde a antigüidade, se pescam homens de bem. Os tesouros das indulgências são redes com que agora se pescam os bens dos homens. (Lutero, Teses 65-66)
Com essa afirmação, das teses 65-66 em epígrafe, Martinho Lutero contrapõe o valor do Evangelho ao valor das indulgências, denunciando-as como não sendo um meio para chegar à salvação. As indulgências eram apenas um instrumento para roubar e massacrar as pessoas, em nome de Deus. A carnificina era praticada a céu aberto e os urubus carniceiros se fartavam. Nesse contexto apodrecido e fétido, Lutero foi o profeta do povo frente a uma “igreja oficial” que usurpara o direito à salvação dada gratuitamente por Cristo para toda humanidade.
Martinho Lutero entende que só a fé é suficiente para o perdão de pecados. Antes, devido sua obstinação em ser salvo pelas obras e pela confissão dos pecados, Lutero chegava a ficar horas se confessando, e às vezes quando se esquecia de um pecado voltava correndo a fim de confessá-lo, tal a pertinácia e obstinação que tinha pela salvação. Depois de várias reflexões, crises e momentos de angústia, ele chegara à conclusão da “justificação pela fé”, e que nesta se resumia toda doutrina cristã.
Por conseguinte, elabora-se a doutrina da “justificação pela fé”, que foi uma das apreensões luteranas mais importantes, pois nela o/a discípulo/a está certo/a de que sua salvação não depende das obras, mas sim da fé mediante a incomensurável Graça. Quando Paulo diz: “o justo viverá por sua fé”, segundo Lutero, quer dizer que a vida do/a justo/a deverá ser marcada por uma crença na salvação dada por Deus em Cristo Jesus, e que não há outro meio de chegar ao Pai Celeste se não for pela fé. Cabe ressaltar que juntamente com a fé deve estar o amor, pois de nada vale a fé sem o amor.
A sistematização da “justificação pela fé” traz uma contribuição significativa para os/as cristãos/ãs daquele tempo no que concerne ao seguimento de Jesus Cristo, uma vez que os/as mesmos/as compreenderam que pela fé seriam salvos/as, e que não careciam pagar indulgências a fim de ter um tesouro no céu, ou ainda, para que sua salvação fosse garantida. Agora a fé, e somente a fé, é suficiente para salvação e para experimentar a Graça de Deus.
Apesar de todas essas contribuições produzidas pela Reforma, a salvação pela fé é uma questão mal compreendida em vários setores eclesiais hoje em dia. Certas pessoas têm a idéia de que fazendo barganhas com “deus” poderão obter os benefícios materiais da “divindade” e salvar-se do pecado e da morte. Há os que ainda pensam ser a prática de boas obras o caminho para obter a salvação, e não uma conseqüência automática da fé em Cristo. Há os que fazem com que o dinheiro pago seja a garantia dos tesouros no céu, ou ainda aqui mesmo na terra – sugerindo que as pessoas que “pagarem” o dízimo e a oferta terão mais bênçãos a receber da parte de Deus. Chegam até à falta de escrúpulos de constranger as pessoas para que façam doações volumosas para Deus, como se o Senhor precisasse de algum dinheiro nosso dessa forma!
Muitas “igrejas” também têm aderido a esta fé neoliberal, excludente e mercenária. Desta adesão horrenda, pornográfica e absurda desencadeiam-se competições entre comunidades de fé; exploração financeira dos/as leigos/as pela liderança religiosa; exaltação do “deus Mercado”; distribuição de bênçãos, vidências e cura “divina” mediante pagamento; e ausência de relacionamento comunitário saudável.
Presenciamos uma decadência em várias áreas do cristianismo brasileiro, semelhante àquela enfrentada por Lutero em sua época. Parece haver um processo cíclico na história, e os erros não estão de forma alguma consertados por aquilo que se nos apresenta pela memória através da história. Grande parte das pessoas não lêem, não refletem e, por isso, cometem os mesmos pecados. Hoje, por exemplo, falta um regresso à Escritura, porque não se tem dado importância devida a ela. Quando Lutero chega à conclusão de que somente a Escritura é a autoridade máxima, ele entende que a Palavra confere aos/às homens/mulheres a oportunidade de trilharem o Caminho da Felicidade que lhes garante a oportunidade de desfrutarem um pouquinho do Céu nesta Terra. Porém, vários/as destes/as corromperam seu valor para terem o poder em suas mãos, a fim de subjugar as pessoas para que essas façam a sua vontade, e não a de Deus.
Talvez o mundo hodierno esteja carecendo de um porta-voz profético como foi Lutero, para levar o povo a uma compreensão de que só a fé é suficiente para a salvação, e que a vida e obra de Jesus Cristo tem autoridade máxima sobre os/as crentes. Isso precisa ser anunciado em nossos dias, pois muitas pessoas vão a suas “igrejas” como se fossem semanalmente a um clube social, não meditam sobre a fé e não querem saber de um profundo estudo das Escrituras. Esses indivíduos querem apenas extravasar suas tensões e dores no culto, fazendo do mesmo um culto irracional, cheio de emoções selvagens, sem reflexão alguma e que lhes tragam benefícios concretos imediatos. Pensam que, conforme dizem alguns/algumas líderes, se ofertarem e “dizimarem” (segundo o dicionário da língua portuguesa dizimar é destruir... mas tudo bem.) serão ricamente abençoados/as. Nesta lógica demoníaca e perversa, a fé deve ser do tamanho da contribuição. Assim, quem crê muito, oferta muito e lucra muito. Logo, quem crê pouco, oferta pouco e lucra pouco.
O que estamos enfrentando nada mais é do que uma mercantilização da fé e uma falta de conhecimento das Escrituras por parte do povo. Tudo isso é agravado pelas disparidades sociais, pelo descuido dos governos para com as pessoas mais frágeis da sociedade, pelo descaso com as áreas da saúde e educação, pelo sucateamento da segurança, pelas alianças entre poderosos/as e bandidos/as, pelo patrocínio da violência, pelo crescimento da sujeira na Política que não nos permite ver os/as raros/as políticos/as sérios/as e profissionais em nossa sociedade, entre outras coisas que serviriam de tema para vários livros.
É óbvio que ao discorrer sobre a Reforma Protestante não há como negar que ela teve motivações, também, na esfera política-econômica, cultural e social. Todavia, eu quero destacar os aspectos teológicos-eclesiais que permeiam este acontecimento histórico como profícuos para uma vida cristã adequada. Por isso, com este 490º aniversário da Reforma Protestante, concluo: urge que se levantem mais reformadores/as. Que seja uma verdade o lema: Igreja reformada, sempre reformando. Está difícil, mas eu não perco a esperança.
Graça, paz e bem!
Com essa afirmação, das teses 65-66 em epígrafe, Martinho Lutero contrapõe o valor do Evangelho ao valor das indulgências, denunciando-as como não sendo um meio para chegar à salvação. As indulgências eram apenas um instrumento para roubar e massacrar as pessoas, em nome de Deus. A carnificina era praticada a céu aberto e os urubus carniceiros se fartavam. Nesse contexto apodrecido e fétido, Lutero foi o profeta do povo frente a uma “igreja oficial” que usurpara o direito à salvação dada gratuitamente por Cristo para toda humanidade.
Martinho Lutero entende que só a fé é suficiente para o perdão de pecados. Antes, devido sua obstinação em ser salvo pelas obras e pela confissão dos pecados, Lutero chegava a ficar horas se confessando, e às vezes quando se esquecia de um pecado voltava correndo a fim de confessá-lo, tal a pertinácia e obstinação que tinha pela salvação. Depois de várias reflexões, crises e momentos de angústia, ele chegara à conclusão da “justificação pela fé”, e que nesta se resumia toda doutrina cristã.
Por conseguinte, elabora-se a doutrina da “justificação pela fé”, que foi uma das apreensões luteranas mais importantes, pois nela o/a discípulo/a está certo/a de que sua salvação não depende das obras, mas sim da fé mediante a incomensurável Graça. Quando Paulo diz: “o justo viverá por sua fé”, segundo Lutero, quer dizer que a vida do/a justo/a deverá ser marcada por uma crença na salvação dada por Deus em Cristo Jesus, e que não há outro meio de chegar ao Pai Celeste se não for pela fé. Cabe ressaltar que juntamente com a fé deve estar o amor, pois de nada vale a fé sem o amor.
A sistematização da “justificação pela fé” traz uma contribuição significativa para os/as cristãos/ãs daquele tempo no que concerne ao seguimento de Jesus Cristo, uma vez que os/as mesmos/as compreenderam que pela fé seriam salvos/as, e que não careciam pagar indulgências a fim de ter um tesouro no céu, ou ainda, para que sua salvação fosse garantida. Agora a fé, e somente a fé, é suficiente para salvação e para experimentar a Graça de Deus.
Apesar de todas essas contribuições produzidas pela Reforma, a salvação pela fé é uma questão mal compreendida em vários setores eclesiais hoje em dia. Certas pessoas têm a idéia de que fazendo barganhas com “deus” poderão obter os benefícios materiais da “divindade” e salvar-se do pecado e da morte. Há os que ainda pensam ser a prática de boas obras o caminho para obter a salvação, e não uma conseqüência automática da fé em Cristo. Há os que fazem com que o dinheiro pago seja a garantia dos tesouros no céu, ou ainda aqui mesmo na terra – sugerindo que as pessoas que “pagarem” o dízimo e a oferta terão mais bênçãos a receber da parte de Deus. Chegam até à falta de escrúpulos de constranger as pessoas para que façam doações volumosas para Deus, como se o Senhor precisasse de algum dinheiro nosso dessa forma!
Muitas “igrejas” também têm aderido a esta fé neoliberal, excludente e mercenária. Desta adesão horrenda, pornográfica e absurda desencadeiam-se competições entre comunidades de fé; exploração financeira dos/as leigos/as pela liderança religiosa; exaltação do “deus Mercado”; distribuição de bênçãos, vidências e cura “divina” mediante pagamento; e ausência de relacionamento comunitário saudável.
Presenciamos uma decadência em várias áreas do cristianismo brasileiro, semelhante àquela enfrentada por Lutero em sua época. Parece haver um processo cíclico na história, e os erros não estão de forma alguma consertados por aquilo que se nos apresenta pela memória através da história. Grande parte das pessoas não lêem, não refletem e, por isso, cometem os mesmos pecados. Hoje, por exemplo, falta um regresso à Escritura, porque não se tem dado importância devida a ela. Quando Lutero chega à conclusão de que somente a Escritura é a autoridade máxima, ele entende que a Palavra confere aos/às homens/mulheres a oportunidade de trilharem o Caminho da Felicidade que lhes garante a oportunidade de desfrutarem um pouquinho do Céu nesta Terra. Porém, vários/as destes/as corromperam seu valor para terem o poder em suas mãos, a fim de subjugar as pessoas para que essas façam a sua vontade, e não a de Deus.
Talvez o mundo hodierno esteja carecendo de um porta-voz profético como foi Lutero, para levar o povo a uma compreensão de que só a fé é suficiente para a salvação, e que a vida e obra de Jesus Cristo tem autoridade máxima sobre os/as crentes. Isso precisa ser anunciado em nossos dias, pois muitas pessoas vão a suas “igrejas” como se fossem semanalmente a um clube social, não meditam sobre a fé e não querem saber de um profundo estudo das Escrituras. Esses indivíduos querem apenas extravasar suas tensões e dores no culto, fazendo do mesmo um culto irracional, cheio de emoções selvagens, sem reflexão alguma e que lhes tragam benefícios concretos imediatos. Pensam que, conforme dizem alguns/algumas líderes, se ofertarem e “dizimarem” (segundo o dicionário da língua portuguesa dizimar é destruir... mas tudo bem.) serão ricamente abençoados/as. Nesta lógica demoníaca e perversa, a fé deve ser do tamanho da contribuição. Assim, quem crê muito, oferta muito e lucra muito. Logo, quem crê pouco, oferta pouco e lucra pouco.
O que estamos enfrentando nada mais é do que uma mercantilização da fé e uma falta de conhecimento das Escrituras por parte do povo. Tudo isso é agravado pelas disparidades sociais, pelo descuido dos governos para com as pessoas mais frágeis da sociedade, pelo descaso com as áreas da saúde e educação, pelo sucateamento da segurança, pelas alianças entre poderosos/as e bandidos/as, pelo patrocínio da violência, pelo crescimento da sujeira na Política que não nos permite ver os/as raros/as políticos/as sérios/as e profissionais em nossa sociedade, entre outras coisas que serviriam de tema para vários livros.
É óbvio que ao discorrer sobre a Reforma Protestante não há como negar que ela teve motivações, também, na esfera política-econômica, cultural e social. Todavia, eu quero destacar os aspectos teológicos-eclesiais que permeiam este acontecimento histórico como profícuos para uma vida cristã adequada. Por isso, com este 490º aniversário da Reforma Protestante, concluo: urge que se levantem mais reformadores/as. Que seja uma verdade o lema: Igreja reformada, sempre reformando. Está difícil, mas eu não perco a esperança.
Graça, paz e bem!
8 comentários:
Oi, Edemir,
Parabéms pelo texto! Tomei a liberdade de postá-lo em meu Blog.
Abraço,
Maya
UFA! Como é difícil postar nesse blog...
Ola!Achei interessante o tema abordado. Eu creio que teremos uma reforma em breve. Acho que já está passando da hora das Igrejas começarem a ler o Apocalipse. Quando abordo esse assunto eles (Bispos, Pastores) sempre se desviam. Se as pessoas lessem o apocalipse saberiam que o Senhor Jesus repreende muito a riqueza material no final dos tempos.
Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu; (Apocalipse 3 : 17)
Hoje em dia basta olhar para a ONU que sabemos que o anticristo surgirá dela. Mas a ONU esconde a sua principal jogada que é a Besta do Abismo o homem que criou todo o sistema do governo mundial. Os cristãos precisamos descobrir quem foi esse homem (se bem que eu sei quem ele é) pelo seguinte: A nova era está na nossa frente em termos de organização e vão matar muitos cristãos, nós como seguidores de Jesus temos que ser mais espertos que eles, é hora de nos unirmos e começar a reforma trocando informações sobre o que cada um de nós conhecemos. Tudo isso está acontecendo por que os cristãos negam a ler o Apocalipse.
Se vc quiser trocar algumas informações estou ao seu dispor.
Que Deus (o verdadeiro) te abençoe!
Muito bom Edemir.
Esta semana lí no "Vida Pacificada"
http://danielbedhung.blogspot.com/
que trata da falta humildade dos dirigentes da "igreja" hoje. Nem todos são mercenários (pouco). Estes poderiam simplesmente confessar que erraram o caminho dizendo:
"Em tal momento, nos pareceu bem, agir assim ou assado..."
É eu sei, é muito ingênuo da minha parte... enfim... Ainda sonho com a igreja de Cristo na terra.
Um beijão pastor!
Edemir, obrigado pela visita!
Seu blog é excelente!
Estarei sempre por aqui,
abraços!
Edemir,
A palavra dizimar no sentido de "destruir", salvo engano, tem origem na contagem que o exército romano fazia dos soldados mortos após as batalhas; para efeito de números a totalização dava-se de dez em dez mortos. Daí "dizimar" como destruir, matar.
Essa nomenclatura é posterior à Bíblia em aramaico, cujos livros mais antigos já trazem a noção de contribuir com a décima parte dos ganhos para o sustento dos levitas, que cuidavam do templo 24 horas. Na verdade, a tradução para o Latim dos livros do Velho Testamento (Vulgata?) provavelmente abraçou a palavra "dízimo", décima parte, já que em aramaico ou hebraico a palavra que define este gênero de contribuição deve ser outra, provavelmente originada do sistema numérico não-latino, esse que é o nosso.
Abraço,
Mayalu
OLÁ Pastor !...amei esse lugar e suas palavras, me trazem conforto ao meu coração ja tão desiludido das ditas verdades cristãs.
Eu confesso: desisti de igrejas. Depois de só descobrir o mal e eouvir homens, tento encontrar o bem e ouvir a Deus sozinha mesmo. Gostaria mesmo que fosse diferente.
Posso add aos meus favoritos ?...
...e se quiser, adicione-me ao seu rebanho, ando "meia" desgarrada.
Abraços a ti .
Obrigado a todos/as pelas contribuições.
Uma vez que somos discípulos/as de Jesus Cristo fomos chamados/as a agirmos cotidianamente como reformadores/as. Não há como escapar. Graças a Deus por isso.
Felicidades!
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