segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Deus está no silêncio

Um provérbio bíblico muito conhecido é o seguinte: “No muito falar não falta transgressão, mas o que modera os lábios é prudente”. Eu me deparei com esse texto de Provérbios 10,19 e me atrevi a pensá-lo de um modo não convencional, isto é, para além de sua aplicabilidade nas relações interpessoais. Propus-me a refletir sobre a minha relação com Deus e logo me senti compelido a aquietar-me. Silenciar muitas vezes traz constrangimento, pois no silêncio não há como eu fugir do encontro com o Senhor e comigo mesmo. É muito comum eu viver sufocado pelos ruídos interiores e exteriores. Por outro lado, emito sons em demasia porque a ausência de barulho me incomoda.

Às vezes falo demais, questiono demais, lamento demais e acabo errando para o meu próprio mal. Tanto falatório não me deixa ouvir as vozes das ocorrências que estão se realizando ao redor, tampouco consigo ouvir o Espírito Santo falar ao meu coração. Um grande desafio é calar minhas perguntas desnecessárias. Ao perguntar em exagero eu acabo perdendo a faculdade de escutar. As minhas dúvidas não me permitem notar e compreender as respostas ou captar os sinais celestes de que Deus nunca me abandona. Na perspectiva de Salomão, ter o silêncio como meta é o mesmo que ter como objetivo a sabedoria, ou seja, a soma do conhecimento com a experiência.

Quando eu falo em demasia torna-se difícil apreciar as muitas nuances e belezas que estão ao meu redor. É por isso que uma das mensagens implícitas neste provérbio é que o/a homem/mulher sábio/a fala menos e escuta mais. Ele/a não se apressa em dar nomes às realidades, aos dilemas da vida, e soluções para questões delicadas. O olhar do/a sábio/a acompanha o seu falar, isto é, ele/a avalia com vagar porque o grande afã em falar-questionar-concluir o/a conduz ao equívoco, à loucura e a toda sorte de transgressões.

Não dizer as coisas com pressa é a chave para que eu erre menos. Mais vale o silêncio apropriado ao falatório desgovernado e errante. Por isso, eu me sinto convidado por Deus a demorar-me naquilo que eu necessito proferir. O próprio Cristo me liberta da tendência de encher os silêncios com milhares de ruídos. Eu me lembro da expressão “falar mais que a boca” indicando o perigo que incorre o/a “bocudo/a”. No muito falar não falta transgressão.

É preciso ter em mente o que afirma a letra da canção: “Eu Te busco, Te procuro ó Deus... no silêncio Tu estás”. Se você quiser me acompanhar, aquiete-se e ouça o que o Pai Celeste está falando. A Palavra do Senhor nos exorta a meditar mais, para ouvir mais a voz de Deus. Abramos o nosso coração para acolher o bom ensino em nome de Jesus Cristo.

Que Deus nos ajude na nossa tarefa diária a fim de que possamos ter uma boa caminhada sob a direção do Espírito Santo.

Graça, paz e bem!

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Evangelho com amor, simplicidade e arte

Uma experiência muito agradável foi assistir a uma das gravações do programa Sr. Brasil, apresentado por Rolando Boldrin, na Rede Cultura. No dia 24 de julho de 2007 o programa foi exibido na TV.

Aqueles/as que ali estiveram presenciaram um tempo-espaço de rara beleza teatral, poética e musical com os/as seguintes artistas: Rolando Boldrin; Cida Moreira; Jair Rodrigues; Luciana Melo; Vitor Lopes e Chorando as Pitangas.

No meio cristão brasileiro existem pessoas com talento, capacitação e profissionalismo semelhantes aos/às artistas supramencionados/as. Eu confesso que gostaria de ver muito mais estes/as irmãos/ãs colocando os seus dons à serviço do Reino... a fim de que o Evangelho fosse proclamado com arte.

Chamem os/as contadores/as de histórias, músicos/as, poetas/poetizas, artesãos/ãs, atores/atrizes, escultores/as, dançarinos/as, pintores/as etc. Eis que vejo adultos, jovens e crianças proclamando o Evangelho com criatividade... eu tenho a certeza de que essa visão pode se concretizar na vida de quem se dispuser a ser conduzido/a pelo sopro criativo do Espírito Santo.

Boa Nova com amor, fé, simplicidade, arte, sonoridade, conteúdo, plasticidade, beleza e poesia faz bem aos corações Divino e humano.

Graça, paz e bem!

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Guerra: uma ironia paulina

Na perícope de Efésios 6,14-17 encontram-se as seguintes assertivas:

“Estais, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade, e vestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz, embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus”.

Eu gosto desta ironia e crítica paulina repleta de profundo ensinamento sobre o modo como é possível caminhar pacificamente sob a doce coordenação de Jesus Cristo. Em outros termos, o/a discípulo/a não faz parte de um exército, nem se orienta pela lógica guerreira, tampouco sente prazer com os rumores de guerra. Me desculpem, mas até hoje eu não consigo ver Jesus convocando, formando e preparando um exército de discípulos/as.

Na época de Paulo o deus romano (Imperador) conquistava o coração dos/as “fiéis” (súditos/as) com a pax. Esta por sua vez se dava mediante a força das armas, da opressão, da crueldade, da guerra, do sadismo, do castigo, do assassinato e da imposição. O culto que esse deus exigia dos/as “crentes” era um ordenamento inquestionável e obrigatório. De vez que os/as cidadãos/ãs obedecem a ordem do seu “senhor” eles/as “herdam” o Império Romano. Portanto, seguir a esse "Estado" autoritário era um peso terrível para homens e mulheres.

Jesus vem trazer salvação e libertação de todo jugo proporcionado pelo pecado, pelo diabo e pela lógica romana. Cristo não guerreia, não exige massacres, não impõe, antes promove a salvação, a felicidade, a vida plena e a morada no Reino do Céu. Se de um lado há o exército imperial, do outro está a multidão de amigos/as de Deus resgatados/as pelo Cordeiro que vivem a lógica do Evangelho.

O/A crente não é soldado/a, não fura o “bucho” das pessoas com a "peixeira", não estraga o moletom de jovens com tiros de “AK47” ou “fuzil AR15”, não degola os/as infiéis em nome do Senhor, não lança mísseis e bombas nucleares em direção aos/às inimigos/as, não "metralha" humanos-demônios ou demônios-humanos com uma “Browning .50 Espiritual”, não se organiza numa “SWAT celestial” portando um “trezoitão divino” pronto para “fritar” as hostes malignas representadas nesta terra por homens/mulheres compromissados/as consigo mesmos/as.

Atentar-se para as Boas Novas anunciadas por Jesus Cristo é de grande valia. Numa perspectiva paulina é possível declarar: chega de cinturões, couraças, sandálias cheias de cravos, escudos, capacetes e espadas! Basta ao/à fiel a verdade, a justiça, o evangelho da paz, a fé, a salvação e a Palavra de Deus.

Cada crente já trava “grandes batalhas” em seu coração por conta de sua tendência ao individualismo, à arrogância, à competição, à mentira, à prepotência e a toda sorte de pecados. Por outro lado, existem seres espirituais malignos que buscam atrapalhar significativamente a vida das pessoas. Uma vez que estas asserções são verdades, somente com o exercício do amor que a vitória pode ser alcançada. Armas enganam, ferem e matam. Amor restaura, salva e liberta. Não há pecados ou entidades demoníacas que resistam ao amor de Cristo que opera na vida dos/as discípulos/as.

Que o Pai Celeste nos liberte dos bélicos desejos de “matar, roubar e destruir” os/as “opositores/as” do Evangelho. Que o Cristo Vivo nos ajude a ser “sal da terra e luz do mundo”... ao invés de traçar estratégias para “saquear infernos”. Que o Espírito Santo nos instigue a rever as nossas músicas militares, as nossas orações agressivas e o nosso testemunho violento e impiedoso.

Até segunda “ordem”... o/a discípulo/a é ministro/a do Amor e da Reconciliação.

Graça, paz e bem!

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

O discurso desajuizado da “lei” e da “graça”

Às vezes me cansa esse discurso sobre o tema “lei e graça” desvinculado de discernimento, sabedoria e Graça. Eu fico a pensar: de onde tiraram esta história de “lei”? Os tradutores da Septuaginta e da Vulgata Latina, apesar do esforço, foram muito infelizes nesta traição, digo tradução... e muita gente gostou do erro!

Quando se analisa o Primeiro Testamento a palavra comumente usada é Torah. Torah não é “lei” nem aqui em São Paulo e nem na Bahia (um forte abraço aos/às irmãos/ãs baianos/as!). Torah significa Bom Ensino ou Boa Instrução que conduz à Felicidade. É certo que alguns elementos que compõe a Torah deixam de fazer sentido após a vinda de Jesus Cristo relatada no Segundo Testamento, mas daí a afirmar que ela é lixo parece-me um exagero.

A Torah não é entulho. Entulhos são as pessoas que transformam a Torah em “lei” (ordem, peso, medo, jugo). Entulhos são aqueles/as que sentem êxtases por viverem, de modo hipócrita ou não, um legalismo cego, frio e doentio. Entulhos são os indivíduos que fazem da sua “lei” a prisão sufocante do Evangelho.

Ao pensar em Jesus eu o vejo como a Boa Notícia que me ajuda a compreender a Torah, a minha vida e a comunidade contemporânea de discípulos/as do Ressurreto. Somando-se a isso, a minha impressão é que o apóstolo Paulo se opõe à “lei de judeus-cristãos legalistas” e não à Torah que obtém um sentido muito mais libertador, amplo e salvador com Cristo.

Talvez esteja na hora de alguém declarar que Torah não é “lei”, que Evangelho não é “evangelho de legalistas” e que ser discípulo/a de Cristo não é ser “evangélico/a”. Tomar cuidado com gente desajuizada além de ser uma “lindeza caetânica” possivelmente seja um Bom Conselho.

Graça, paz e bem!