sexta-feira, 22 de julho de 2011

Pelo em ovo








Nos tempos que antecederam a minha ida à Faculdade de Teologia e o ingresso no Ministério Pastoral a vida cristã parecia ser menos complicada. Lembro-me que eu ficava satisfeito com o modo como vivíamos o cristianismo, a saber, mantínhamos uma prática de oração e leitura bíblica diária, evangelizávamos pessoas que ainda não conheciam a Cristo, festejávamos as conversões que aconteciam, tínhamos amigos cristãos e não-cristãos, participávamos de vigílias, resolvíamos nossas pendências com diálogo e exercício do perdão, freqüentávamos acampamentos da igreja, expulsávamos o demônio de alguém quando necessário, íamos à Escola Dominical para estudar a Bíblia, procurávamos ser cheios do Espírito Santo, cultuávamos a Deus e nos reuníamos nas casas dos nossos irmãos para culto e confraternização. Tudo acontecia espontaneamente, sem imposições, era maravilhoso buscar a Deus... dava prazer estar com outros discípulos de Jesus.

Posteriormente, após um período de grande desenvolvimento e fecundidade terminei o meu curso teológico e iniciei o ministério pastoral (2001) com muitas expectativas boas. Desde este tempo até o presente ano a minha sensação é que o mundo virou, as igrejas se transformaram e eu cada vez mais me sinto um “peixe fora da água”. Hoje em dia parece que não basta cultuar, estudar as Escrituras, evangelizar, testemunhar, reunir-se com outros discípulos de Cristo, crer e confiar no poder de Deus, amparar o sofrido, esforçar-se por manter uma coerência entre vida e pregação. Na atualidade precisa ter uma campanha para alcançar qualquer coisa, quebrar uma maldição lá, agradar 100% os conservadores, os avivados e os liberais, fazer cafuné em algum crente perito em ser melindroso, ter um grupo de intercessão ativo durante o louvor comunitário para que dê tudo certo, dar respostas prontas e definitivas para crentes mal acostumados a pensarem e estudarem a Palavra, realizar um milagre aqui, entoar mais uma canção estranha que está nas paradas de sucesso, amarrar demônios inventados por gente que vê o Tinhoso em tudo, promover um congresso de prosperidade, participar de caríssimas conferências para alcançar uma santidade ainda maior, inscrever-se num evento de mistérios e revelações.

O Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo não é mais suficiente em várias comunidades ditas cristãs. Temos um grupo considerável de insatisfeitos que precisam de alguma coisa nova para se motivar. Depois de 1997 o mundo evangélico que eu conhecia parece que gradativamente se torna menos cristão e mais complicado. Espero que essas minhas impressões sejam apenas o pensamento de alguém que está vendo “pelo em ovo”.

Graça, paz e bem!

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