quinta-feira, 12 de julho de 2007

A propósito de Bento

Afirmou Bento XVI: “A única igreja de Cristo é a Católica”. Outrora anunciou: “Fora do Catolicismo não há salvação”.

Por que esbravejar ou escandalizar-se diante das supramencionadas asserções de Bento XVI? O que o Papa proferiu é algo deveras notório. Ao visitar a história da Igreja você encontra esta postura. Certos/as “cristãos/ãs” das mais variadas vertentes valeram-se deste expediente. Trata-se de uma estratégia institucional. Toda instituição religiosa hegemônica, ou em vias de perder tal hegemonia, precisa reafirmar a sua autoridade e as suas origens de tempos em tempos – exempli gratia, revise as obras: “Microfísica do poder” de Michel Foucault e a “Economia das trocas simbólicas” de Pierre Bourdieu. Na contemporaneidade, se o protestantismo estivesse na mesma posição do Catolicismo no Ocidente é provável que as assertivas ofensivas-defensivas também seriam utilizadas. Diante desta grande novidade, a nossa tarefa é nos unir com os/as discípulos/as de Jesus Cristo e não com os/as adoradores/as do próprio umbigo que ficam extasiados/as com o simples sussurrar do nome de suas “empresas sagradas”.

Declarou Jesus Cristo: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim”. [João 14,6] E asseverou mais: “Se alguém me ama, guardará minha palavra e o meu Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos morada. Quem não me ama não guarda minhas palavras; e a palavra que ouvis não é minha, mas do Pai que me enviou”. [João 14,23-24]

Destarte, tem-se como ilação o seguinte: Padres/Mamas, apóstolos/apostilas, pastores/as, missionários/as não podem salvar ninguém. O mesmo se aplica às igrejas autocentradas e arrogantes que se esqueceram do Cristo – fato que se comprova na observação das teias e poeiras como invólucro do Santo Livro.

Enfim, a única igreja de Jesus Cristo é aquela composta por seus/suas discípulos/as. Estes/as últimos/as são os/as portadores/as da salvação que, dentre muitas atribuições, trazem consigo a força das palavras que transformam o mundo.

Graça, paz e bem!

3 comentários:

Alysson Amorim disse...

Camarada,

Encontrei aqui um ótimo blog.

Nunca é demais lembrar que instituição alguma pode aprisionar a graça divina. É um crítica com vocação protestante. Vocação, aliás, que tem faltado as nossas Igrejas ditas protestantes.

Um grande abraço.

Unknown disse...

Gostei muito do blog e das discussões que você levanta. Pensei sobre o comentário de Bento e percebi que há um equívoco: pensar que Jesus tem um "lócus" legitimado. Infelizmente esse equívoco parece ter se instalado e distorce ou não entende toda a lógica ou o modo de sentir e pensar o mundo deixado por Cristo. Ou melhor, nos deixa uma indagação: que lugar temos colocado Cristo ultimamente?

Maya Felix disse...

Pastor, parabéns pelo seu blog!

Hoje fiquei muito feliz em poder comprar a última edição da Revista Eclésia, que infelizmente não conta mais com colaboradores muito bons que nela já escreveram -- como o pastor Ed. René Kivitz e o pastor Ricardo Gondim, entre outros tantos.

Mas, lendo ontem a Veja desta semana me deparei com uma reportagem (mais uma, entre as inúmeras) que noticia que a igreja católica nos EUA terá de pagar indenizações a vítimas de padres, bispos, arcebispos etc. pedófilos. O montante atinge 660 milhões de dólares. E, além disso, como diz a reportagem, " 'Como a igreja católica exige o celibato, a vida sexual dos padres acaba sendo rodeada de segredo', disse a VEJA o americano David Clohessy, diretor da Rede de Sobreviventes de Abuso de Padres, com sede em Chicago. 'Praticamente todos têm o que esconder, do seminarista ao bispo, e isso explica por que um acoberta o outro'" (25/07/2007, p. 96).

Além dessa reportagem, na revista Eclésia (ano 11, ed. 118, p. 56) há também outra, que volta no tempo e relembra o massacre de São Bartolomeu, na França, sob o título "O Holocausto do século 16", que vitimou 100 mil protestantes, mortos por serem, simplesmente, cristãos adeptos do movimento protestante. Naquela época a igreja católica podia fazer isso: faca nos que não são da madre. Hoje, o papa emite declarações como a que fez, querendo simbolicamente matar os cristãos que não fazem parte da igreja de Roma.

Na hora em que li os textos me lembrei da declaração do papa e de como nada disso faz sentido diante do que é visível, palpável, indecorosamente exposto, há séculos.

E me lembrei também de que alguns dos que se dizem cristãos "protestantes" ou "evangélicos", à escolha do freguês, que têm blogs, sites e afins, não hesitam em postar notícias sobre "pastores" pedófilos e escândalos nas igrejas protestantes/evangélicas. Eles existem? Sim, é claro! Somos os primeiros a denunciar. Os que muitos protestantes mais amam, parece-me, é criticar não só o protestantismo, mas as igrejas e seus líderes. Somos eternos autofalantes que constantemente berram: "mea culpa! mea maxima culpa!" Felizmente ou infelizmente.


O que é constrangedor não é o reconhecimento de nossas falhas -- isso pode ser construtivo, ou pode gerar, dependendo de como falamos, um sentimento de que somos, no final das contas, uns joões-ninguém, mesmo, como o papa declarou.

O que me surpreende é ver "líderes cristãos protestantes" se derramando em textos elogiosos à igreja católica mas fazendo pouco caso de reportagens e denúncias graves como a que foi publicada pela Revista Veja. Ora, se somos assim tão ecumênicos, por que reservamos as vaias somente para nós mesmos e os aplausos, eternos, para a "santa madre igreja"? Essa pergunta continua sem resposta. Mas tenho minhas desconfianças: interesses comerciais e profissionais, medo, santa adoração ou simples burrice, mesmo.

Não defendo uma denominação, nem mesmo o movimento protestante da Reforma, mas gosto de saber que faço parte de uma tradição de luta contra a mentira, o autoritarismo, a favor da verdade e da busca do Deus uno e trino, Soli Deo Gloria. Sou cristã, antes de carregar qualquer placa. Mas não nego que sou, sim, protestante, e que sou feliz assim.

Postei comentário semelhante no blog do pr. Ed. René Kivitz e do irmão Daniel Bedhung ("Vida Pacificada"), de Curitiba.