Será que estou no Coliseu, no Pacaembu, em um Matadouro... sei lá, começa o diálogo:
- Faltam alguns minutos para começar.
- Mas que demora!
- Calma, a taxa paga vale a pena.
- Estou achando que fui enrolado.
- Não, é assim mesmo. Nós vamos ver.
- Sangue?
- Não. Nós vamos ver.
- Emoção?
- Não. Nós vamos ver.
- Ação?
- Calma.
- Mas não é nada disso que eu falei?
- Mais ou menos.
- Eu não estou agüentando mais.
- Quando você ver... aí você poderá extravasar.
De repente percebe-se um movimento no lado esquerdo da platéia. Sem demora uma questão é feita ao grande animador:
- É este homem?
Rapidamente vem a resposta:
- Não!
Outro movimento... agora no lado direito. O público fica apreensivo. E novamente a pergunta:
- É este?
Noto os olhos vidrados da multidão sedentos por sangue, emoção e ação... A apreensão contagia a massa. Afirma o animador:
- Não.
O povo alvoroçado grita:
- Mostra, mostra, mostra!
Um silêncio aterrorizante se dá. Percebo a tensão naqueles que procuram o indivíduo que será escolhido. Todas aquelas pessoas respirando juntas criam um imenso calor. Alguns se agarram aos seus livros. Outros cruzam os dedos e fecham os olhos. Há também quem comece a desfazer o seu lindo penteado. Bem próximo a mim uma mulher aparentemente estressada, com a situação e com a multidão que se aglomera, olha para trás a fim de visualizar sua filha e o genro. Percebo que ela está com falta de ar e um pouco atordoada. Sem demora o animador berra e aponta o dedo:
- É ela!
Pensei eu: mulher, de novo mulher, só dá mulher neste palco... justamente aquela que passava mal naquele ambiente inóspito e insalubre. Os auxiliares do animador correm em direção a mulher, seguram os seus braços. O animador fixa o seu olhar na vítima-cordeiro, fala algo, movimenta as mãos... eis a hipnose. A mulher só queria ar puro... infelizmente terá que amargar o ar poluído e viciado dos responsáveis pelo abate. Grunhidos e brutalidades podem ser contempladas e ouvidas. Em meio a isso o povo vaia, grita, aplaude, salta, lança olhares de ódio, movimenta bruscamente as mãos. É chegada a hora. A partir deste instante toda raiva, medo, angústia, frustração, ansiedade e dor se concentrarão naquele palco. O animador avisa:
- Ninguém veio aqui pra nada não!
Eis a cena: um matadouro, um animal, um carrasco e um empresário. Ou será: um goleiro, um chutador, um apito e uma multidão? É óbvio que há casos verídicos que devem ser tratados com todo o cuidado e respeito possível, no entanto o “Exorcism Show” me enoja. Mas o problema é só meu. Sou eu quem está pesquisando. É difícil tirar os óculos de discípulo de Cristo e colocar os óculos de cientista. Eu aprendo... entretanto dói.
Graça, paz e bem!
- Faltam alguns minutos para começar.
- Mas que demora!
- Calma, a taxa paga vale a pena.
- Estou achando que fui enrolado.
- Não, é assim mesmo. Nós vamos ver.
- Sangue?
- Não. Nós vamos ver.
- Emoção?
- Não. Nós vamos ver.
- Ação?
- Calma.
- Mas não é nada disso que eu falei?
- Mais ou menos.
- Eu não estou agüentando mais.
- Quando você ver... aí você poderá extravasar.
De repente percebe-se um movimento no lado esquerdo da platéia. Sem demora uma questão é feita ao grande animador:
- É este homem?
Rapidamente vem a resposta:
- Não!
Outro movimento... agora no lado direito. O público fica apreensivo. E novamente a pergunta:
- É este?
Noto os olhos vidrados da multidão sedentos por sangue, emoção e ação... A apreensão contagia a massa. Afirma o animador:
- Não.
O povo alvoroçado grita:
- Mostra, mostra, mostra!
Um silêncio aterrorizante se dá. Percebo a tensão naqueles que procuram o indivíduo que será escolhido. Todas aquelas pessoas respirando juntas criam um imenso calor. Alguns se agarram aos seus livros. Outros cruzam os dedos e fecham os olhos. Há também quem comece a desfazer o seu lindo penteado. Bem próximo a mim uma mulher aparentemente estressada, com a situação e com a multidão que se aglomera, olha para trás a fim de visualizar sua filha e o genro. Percebo que ela está com falta de ar e um pouco atordoada. Sem demora o animador berra e aponta o dedo:
- É ela!
Pensei eu: mulher, de novo mulher, só dá mulher neste palco... justamente aquela que passava mal naquele ambiente inóspito e insalubre. Os auxiliares do animador correm em direção a mulher, seguram os seus braços. O animador fixa o seu olhar na vítima-cordeiro, fala algo, movimenta as mãos... eis a hipnose. A mulher só queria ar puro... infelizmente terá que amargar o ar poluído e viciado dos responsáveis pelo abate. Grunhidos e brutalidades podem ser contempladas e ouvidas. Em meio a isso o povo vaia, grita, aplaude, salta, lança olhares de ódio, movimenta bruscamente as mãos. É chegada a hora. A partir deste instante toda raiva, medo, angústia, frustração, ansiedade e dor se concentrarão naquele palco. O animador avisa:
- Ninguém veio aqui pra nada não!
Eis a cena: um matadouro, um animal, um carrasco e um empresário. Ou será: um goleiro, um chutador, um apito e uma multidão? É óbvio que há casos verídicos que devem ser tratados com todo o cuidado e respeito possível, no entanto o “Exorcism Show” me enoja. Mas o problema é só meu. Sou eu quem está pesquisando. É difícil tirar os óculos de discípulo de Cristo e colocar os óculos de cientista. Eu aprendo... entretanto dói.
Graça, paz e bem!
Um comentário:
Éca!
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